O rapaz estava ensimesmado no sofá, esquecido das pernas e dos braços que mantinha em posições acrobáticas. Conservava na cabeça o capuz para criar uma fronteira com o mundo que todos os dias descobria qual alpinista destemido. Aterrara havia pouco tempo, vindo do reino onde sempre vivera, um círculo perfeito, luminoso, uma brancura ingénua e feliz. Agora percorria as ruas de um outro cheio de cores e brilhos confusos, onde o branco parecia branco. Um labirinto onde, por vezes, já não era uma vez. Sem volver os olhos, perguntou: - Pai, ouvi dizer que és um romântico, é verdade? O adulto olhou-o fixamente por momentos, em silêncio. Percebeu que não ia encontrar os olhos do filho que acompanhava com algum interesse o decorrer de uma série policial. Às vezes, encontramos nos olhos o caminho da resposta que as palavras em ponto de interrogação não sabem antecipar. Arriscou então uma graça: - Não me digas que estás apaixonado? O rapaz reagiu com espanto à inesperada pergunta. -