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- Obrigado,
Professor. Bom Natal! Quer que chame o Rui?
- Sim, pode
ser. Se houver algum problema lá dentro, quero que me venhas chamar
imediatamente.
- Pode ficar
descansado, estamos a jogar basquete.
Saí do
gabinete mas já nem me recordava da classificação atribuída. A minha
preocupação era outra. Daí a pouco, a Teresa ia ser chamada e começava a
contagem decrescente para a Catarina fazer o que tínhamos combinado.
Aproximei-me do centro do campo onde todos se agrupavam para dar início a mais
uma partida. Procurei os olhos da Catarina. Tudo pronto. Restava esperar e
manter toda a calma necessária para que ninguém desconfiasse.
Naquele
momento o tempo só corria para mim, acompanhava as batidas do meu coração.
Parecia só meu. As linhas do campo afunilavam todas na mesma direção. Apenas eu
e a Catarina. As escadas, o balneário feminino, o saco da Teresa, o telemóvel,
as mensagens…
- Teresa,
agora és tu. Podes ir - anunciou o Rui.
Repentinamente, uma força estranha
apoderou-se das minhas pernas. Estava na hora. A Catarina afastou-se,
procurando certificar-se de que ninguém a seguia com o olhar. Deixei de a ver.
- Então,
Pedro?! Joga! - gritava o Bernardo. - Estás a pensar em quê? Ao menos
passa a bola.
Passei a
bola e o Bernardo facilmente encontrou o António em melhor posição para fazer
três pontos.
Desejava acima de tudo que a Teresa
discordasse da proposta do professor, que ligasse o complicómetro como era seu costume. Era importante que o tempo se
demorasse por ali o mais possível.
- Tó, podes
ir lá agora? Inventa qualquer coisa. Aguenta a Teresa o mais possível na sala
do professor. Diz que te lembraste de um trabalho que o professor não
considerou na avaliação.
- Conta
comigo! Já lá estou.
O António
gostava daquelas coisas. Não perdia uma oportunidade para fazer parte da minha
equipa. Desta vez a jogada era mais arriscada, mas valia a pena.
31
Sexta de manhã. Não me atrevia a sair da
cama. As imagens do dia anterior disputavam espaço com aquelas que a minha
imaginação antecipava. Um reboliço intenso que nem a almofada conseguia acalmar.
Olhava a luz que invadia o meu quarto por uma nesga que a cortina não conseguia
tapar devidamente. Sentia-me na mira de uma arma especial apontada para mim.
Algo me dizia que, nas horas seguintes, muita coisa mudaria na vida da Teresa,
do Xavier e do Eduardo. Ou não.
O João já tinha descido. O aroma a pão
torrado invadia o quarto e convidava-me para o pequeno-almoço. Devorei o pão
sem lhe sentir o sabor, concentrado nas mensagens do telemóvel. Bebi o leite
com chocolate de um trago e voei para o carro onde já me esperavam.
Depressa avistei os muros da escola e levei
de imediato um murro no estômago. Nenhum carro da polícia estava estacionado
junto ao portão. Na verdade, era frequente a presença policial na entrada da
escola, sobretudo, nos horários de maior trânsito. Contudo, naquele dia, nem
sinais. Por momentos, tentei afastar qualquer conclusão precipitada. Eram
várias as possibilidades.
Saí. A mochila baloiçava leve nas minhas
costas. Era o último dia. Fiz questão de acompanhar o meu irmão que me olhou
num misto de espanto e desaprovação. Não percebi se por achar que não precisava
da minha proteção ou por lhe parecer que eu estava com medo de alguma coisa.
Talvez as duas razões.
A informação não tardou.
- Já sabes o que aconteceu?
Os meus ombros disseram que não. O
Bernardo, seguido pelo António que me piscou o olho à mistura com um sorriso
maroto, continuou a disparar.
- A bófia à paisana esteve aqui e apanhou
vários tipos. Acho que a Teresa também está envolvida.
- O Xavier e o Eduardo foram apanhados com
material - completou o António. Os agentes acertaram em cheio. Apareceram de
repente, do nada. Ninguém sabe como. Desta já não se livram. Estão no gabinete
da direção. Não tarda, seguem para a esquadra.
Naquele momento, apeteceu-me soltar um
grito há muito sufocado e contrariado, mas contive-me perante a presença de
vários colegas que não iriam perceber a minha alegria naquele contexto.
Limitei-me a apertar a mão do António num cumprimento interminável onde os
nossos dedos pareciam ter vida própria tais os movimentos que eram capazes de
fazer numa harmonia perfeita.
O meu pensamento abriu caminho à procura
de Catarina. Já teria chegado? Precisava de lhe dar aquela notícia. Mais do que
ninguém, ela arriscara tudo para descer ao balneário e enviar a mensagem que alterou
a vida daqueles três que há muito precisavam de uma lição.
Encontrei-a junto à sala de aulas. A
professora de Francês acabara de entrar.
- Já te disseram o que aconteceu? – segredei.
- Quem é que ainda não sabe?! Foi um
escândalo! Parecia um filme. Polícia. Quietos. Encostados à parede, já! Revista
completa, apreensão… Até eu fiquei assustada!
-Tu assististe?! Tiveste coragem?
- Achas que ia perder um momento destes?
Ver a cara da Teresa?
Fiz-lhe sinal de silêncio. A aula ia
começar.