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Mãe, emprestas-me um beijinho?


A Teresa rodava no centro da sala com os braços esticados sobre a cabeça. Era uma bailarina encantada pela música, rodopiava nos braços da melodia.
- Mãe, olha para mim! Vês, já sei dançar!
- Linda! Que princesa tão linda!
E logo a envolveu num abraço, emprestando-lhe um beijo no rosto. A menina olhou-a de uma forma inesquecível. Nos olhos, um tempo indistinto, um tempo sem tempo que reunia ali todos os tempos. O beijo provocou-lhe uma explosão interior sentida no olhar, uma alegria que se alargava no sorriso e se apertava no abraço que reafirmou à volta do pescoço da mãe.
Depois afastou-se para reencontrar-se com os amigos de peluche que aguardavam pela sua imaginação.
- Vem cá, pequenino, estás com frio?
Agarrou-o, envolveu-o num pequeno cobertor e ofereceu-lhe um beijo demorado.
O Mateus também estava na sala. Tinha reparado com curiosidade na irmã e na mãe.
- Também me davas beijos assim?
Como não obteve resposta, aproximou-se e encostou a cabeça no ombro da mãe que se tinha sentado no sofá.
- Diz, filho, não percebi.
- Mãe, tenho uma pergunta para te fazer.
- Sim.
- Porque é que os pais dão beijinhos aos filhos?
- Tu gostas dos meus beijinhos?
Em resposta, apenas o movimento afirmativo da cabeça e um abraço. Algum tempo assim, para depois dar espaço a mais uma dúvida:
- Porque é que tu emprestas os beijos? Emprestas-me, emprestas às minhas irmãs. Todas as pessoas dão os beijos… Não entendo.
Esta era uma pergunta que há muito a mãe esperava. Também ela a tinha feito.
- Empresto-te os beijinhos. Deixo-os no teu rosto, mas não quero que os amarres a ti para sempre.
- Não percebo, mãe. Queres que tos devolva?
- Um dia saberás!
Não era o momento ainda. Para já, aqueles beijos ficavam ali. Medalhas de amor no rosto de cada filho. Marcas que voltarão sobre a forma de um abraço, de um sorriso e de tempo, sobretudo tempo.
- Mãe, emprestas-me um beijinho?
- Mais um? – reagiu com um sorriso feliz. – Assim a tua dívida aumenta ainda mais!
- Achas que não consigo devolver-tos?
A mãe não tinha dúvidas quanto à resposta que transmitiu apenas com o olhar.
- Vou jogar à bola!
E lá foi com mais uma medalha no rosto que lhe incendiava o peito. Tinha para já uma certeza: um beijo obrigava-o a estar por perto, à distância de um abraço.

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