Um, dois, um, dois.
As formigas aqui vão
Um, dois, um, dois.
Para enfrentar o perigo,
Um, dois, um, dois.
Encontrar a solução,
Um, dois, um, dois.
E voltar para o abrigo.
Um, dois, um, dois.
E voltar para o abrigo.
Um, dois, um, dois.
A
Musculosa marchava decidida à frente das companheiras. Desta vez, a missão era
séria – as mensageiras tinham emitido um pedido de ajuda urgente.
-
Pai, quando levas estas garrafas para o vidrão? – perguntou o Mateus.
-
Logo que possível. Temos de levar também o papel e o plástico. Por enquanto,
ficam aí nos separadores.
O
Mateus e o pai estavam no alpendre e preparavam-se para guardar as ferramentas
que tinham usado para limpar o jardim. Uma das garrafas tinha caído do muro que
existia no limite do alpendre. Estava inteira e permanecia transparente. O
Mateus não a viu por isso ela ali ficou entre as camélias.
Era
para esse local que a Musculosa e as amigas avançavam. Pelo caminho, pediram
ajuda ao Sapo Toquinhas que deixou imediatamente o seu rododendro. A Teimosa já
tinha voado à frente. O Velho Vagaroso seguiu também, vagarosamente. Percorreu
longamente a pequena distância até à garrafa deitada. Foi o último a chegar e,
satisfeito com a sua vitória, resolveu analisar com calma a situação: o Soneca
dava pancadinhas com as patinhas na garrafa que rodopiava ora para a direita,
ora para a esquerda. Estava muito divertido com o rabo alçado e a baloiçar.
A
Musculosa e as companheiras estacionaram alinhadas no limite do muro de pedra.
Esperavam sinal para avançar.
O
Sapo Toquinhas também ali estava e não resistiu a um sorriso depois de perceber
o que se passava.
A
primeira a entender o problema das formigas foi a Teimosa que imediatamente
voou para o Soneca:
-
Para com isso! Estás a pôr em perigo as formigas!
-
Teimosa! Queres entrar na garrafa? Experimenta, é muito divertido! – convidou o
gato Soneca.
Dentro
da garrafa, estavam dezenas de formigas que tentavam encontrar a saída. Mas
eram tantas as voltas que já estavam tontas e desorientadas.
-
A Musculosa pediu para deixares sair as companheiras – continuou a Teimosa.
Nesse
momento, o Sol preparava-se para encontrar-se com a Lua. Mas era tão difícil! Um trabalhava de dia, outro de noite! Conversavam de passagem como um carro na
portagem. Mas, às vezes, quando há muitas nuvens, encontram-se às escondidas. O
que se vê é que fica tudo mais cinzento. Será o Sol que perde o brilho ou é a
Lua que fica mais iluminada? Não sabemos.
Nesse final de tarde, estava o Sol
muito avermelhado lá no horizonte. Ia dizer à Lua um poema que preparara
durante o dia. Ensaiou cada palavra, cada sílaba. Pouco a pouco ia fechando a
janela atrás do horizonte.
- Musculosa! Não te tinha visto.
Desculpa, não percebi que as estava a perturbar. Pareciam divertidas lá dentro.
- Soneca, causaste um grande
sarilho: o fornecimento do formigueiro foi interrompido, obrigaste este pelotão
a deixar o trabalho de armazenamento para se deslocar até aqui. Além disso, a
noite aproxima-se e vai ser difícil encontrar o caminho de regresso.
- Mas eu não fiz nada! Quando
encontrei a garrafa, as formigas já estavam lá dentro.
As companheiras levantaram as
cabeças e mostraram as mandíbulas ameaçadoras. O Soneca deu um salto para
longe. A Teimosa pousou imediatamente no gargalo para orientar as formigas
presas no interior da garrafa.
- O Soneca não tem culpa – disse,
por fim, o Toquinhas. – A garrafa caiu no carreiro e elas entraram sem saber
que não havia saída.
- Mas agora já podem sair –
protestou a Teimosa. – Não percebo porque continuam a tentar sair pelo fundo da
garrafa.
- Elas sabem que o regresso ao
formigueiro se faz naquela direção – justificou o Sapo Toquinhas.
- As minhas companheiras sabem que
o caminho é por ali. Nada as fará mudar de rumo – afirmou preocupada a
Musculosa.
O Velho Vagaroso observava a cena
de operações e girava os tentáculos em
sinal de reflexão. Procurava uma solução para aquele problema. Não podia
demorar muito, pois as formigas corriam perigo. Como podiam elas sair da
garrafa?
- O Soneca afastou-se daqui. Foi
um erro assustá-lo – declarou o Velho Vagaroso.
- O que pensas fazer? – quis saber
a Musculosa.
- Já percebi que as formigas não
alteram a sua decisão. Continuarão a marchar em direção ao formigueiro, mesmo
que não haja saída. Só há uma solução – virar a garrafa.
- Mas como? – perguntou o
Toquinhas. – A garrafa é muito pesada para nós.
- Musculosa, conduz as tuas
companheiras para junto da garrafa – ordenou o Vagaroso.
Um, dois, um, dois.
As formigas aqui vão
Um, dois, um, dois.
Para enfrentar o perigo
Um, dois, um, dois.
Encontrar a solução,
Um, dois, um, dois.
E voltar para o abrigo.
Um, dois, um, dois.
Um, dois, um, dois.
As formigas aqui vão
Um, dois, um, dois.
Para enfrentar o perigo
Um, dois, um, dois.
Encontrar a solução,
Um, dois, um, dois.
E voltar para o abrigo.
Um, dois, um, dois.
O Velho Vagaroso continuou:
- Toquinhas, salta para o muro e
coloca-te na direção do gargalo. Agora todas as formigas para junto do fundo da
garrafa. O Toquinhas salta para o gargalo, o fundo levanta e todas fazem rodar
a garrafa ao mesmo tempo.
Um, dois, três.
Salta, empurra, roda.
Um, dois, três.
Salta, empurra, roda.
Um, dois, três.
Salta, empurra, roda.
- Conseguimos! Conseguimos!
Em pouco tempo, as formigas reencontraram
o carreiro para o formigueiro. O Vagaroso tinha razão. Não era preciso mudar
as formigas. A solução era mais fácil, bastava rodar a garrafa.
- Mateus, apanha essa garrafa que
caiu entre as camélias.
O Mateus obedeceu e reparou que
estava lá dentro uma formiga. Observou-a com cuidado.
- O que fazes aqui sozinha? Vá, eu
ajudo-te a sair.
Depressa a formiga se juntou às
companheiras. E a garrafa também.
O Toquinhas e os amigos repararam ainda
que o Sol já quase não se via no horizonte. Algumas nuvens ocultavam os raios
avermelhados do Sol que, nesse momento, dizia o poema à Lua que, por acaso, se
tinha preparado com o seu melhor vestido de noite.