Mãe, não cabes na palavra que te quiseram dar.
Uma casa minúscula para tanto ser! Uma sílaba: dois
lábios que se fecham em forma de beijo para logo abrirem caminho à brisa que
lhe desenha a forma sonora.
Rosto carregado de frutos maduros e doces, nos
olhos correm os rios que matam a sede e que, por vezes, rolam pelas margens ao
meu encontro.
No teu sorriso está o teu segredo.
As tuas mãos conhecem os contornos dos meus sonhos
e soltam as amarras no porto onde sempre me esperas, onde sempre te encontro,
onde sempre me voltas a prender.
Mãe, não cabes na palavra que te quiseram dar.
Uma casa minúscula para tanto ser! Uma sílaba: dois
lábios que se fecham em forma de beijo para logo abrirem caminho à brisa que
lhe desenha a forma sonora.
Aprendi a respirar ao ritmo do teu embalo.
Tenho ainda no ouvido a melodia das histórias que
me segredavas e espanta-me a nobreza da tua humildade, quando rezas ao meu
lado.
Todas
as nascentes, todas as fontes contigo aprendem sobre a vida que libertam em
cada gota pura e transparente. Fonte cujo leito se estende até ao mar, caminho
do arroio que quer crescer. Por ele também percorro e descubro a tua esperança.
Mãe, não cabes na palavra que te quiseram dar.
Uma casa minúscula para tanto ser! Uma sílaba: dois
lábios que se fecham em forma de beijo para logo abrirem caminho à brisa que
lhe desenha a forma sonora.