O Mateus tinha nas mãos uma narrativa. Delicadamente,
deixou que os olhos fugissem pelas margens até se fixarem numa fotografia que
permanecia na mesa. Sorriu ao ver-se bébé. Voltou a fixar o texto. Descobriu concordâncias
com outras histórias. Que as histórias nunca se desligam, são solidárias,
conhecem-se umas às outras.
Começou a bater suavemente com a palma da mão numa
das páginas. Depressa o ritmo chamou as palavras.
Umbigo, umbigo meu,
Tu conheces alguém
Mais belo do que
eu?
Umbigo sempre fui
Mas depois de ser
teu.
Antes disso fui cordão
E som do coração.
Umbigo, umbigo meu,
Tu conheces alguém
Mais belo do que
eu?
Umbigo sempre fui
Mas depois de ser
teu.
Antes disso fui ponte,
Fui nascente e fui fonte.
Umbigo, umbigo meu,
Tu conheces alguém
Mais belo do que
eu?
Umbigo sempre fui
Mas depois de ser
teu.
Antes fui colo
preciso,
Silêncio e sorriso.
Umbigo, umbigo meu,
Tu conheces alguém
Mais belo do que
eu?
Umbigo sempre fui
Mas depois de ser
teu.
Antes disso fui afago,
Gestos que não
apago.
Umbigo, umbigo meu,
Tu conheces alguém
Mais belo do que
eu?
Para além do
umbigo
Que eu sou com
certeza,
Levanta os teus
olhos
Para veres a
beleza.
Para além do
umbigo,
Surgirás verdadeiro,
No abraço que recebes,
No sorriso primeiro.
Umbigo, umbigo teu,
Sou marca de um
segredo:
A beleza que tens
É o que dás sem medo.
O Mateus retomou a narrativa. Queria
agora saber o que ia acontecer à menina que tinha perdido as asas por ter olhado
demais para o umbigo.