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Para além do meu umbigo!




O Mateus tinha nas mãos uma narrativa. Delicadamente, deixou que os olhos fugissem pelas margens até se fixarem numa fotografia que permanecia na mesa. Sorriu ao ver-se bébé. Voltou a fixar o texto. Descobriu concordâncias com outras histórias. Que as histórias nunca se desligam, são solidárias, conhecem-se umas às outras.
Começou a bater suavemente com a palma da mão numa das páginas. Depressa o ritmo chamou as palavras.

Umbigo, umbigo meu,
Tu conheces alguém
Mais belo do que eu?

Umbigo sempre fui
Mas depois de ser teu.
Antes disso fui cordão
E som do coração.

Umbigo, umbigo meu,
Tu conheces alguém
Mais belo do que eu?

Umbigo sempre fui
Mas depois de ser teu.
Antes disso fui ponte,
Fui nascente e fui fonte.

Umbigo, umbigo meu,
Tu conheces alguém
Mais belo do que eu?

Umbigo sempre fui
Mas depois de ser teu.
Antes fui colo preciso,
Silêncio e sorriso.

Umbigo, umbigo meu,
Tu conheces alguém
Mais belo do que eu?

Umbigo sempre fui
Mas depois de ser teu.
Antes disso fui afago,
Gestos que não apago.

Umbigo, umbigo meu,
Tu conheces alguém
Mais belo do que eu?

Para além do umbigo
Que eu sou com certeza,
Levanta os teus olhos
Para veres a beleza.

Para além do umbigo,
Surgirás verdadeiro,
No abraço que recebes,
No sorriso primeiro.

Umbigo, umbigo teu,
Sou marca de um segredo:
A beleza que tens
É o que dás sem medo.

O Mateus retomou a narrativa. Queria agora saber o que ia acontecer à menina que tinha perdido as asas por ter olhado demais para o umbigo.

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