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Até onde gostas de mim?


                - Adoro-te!
                E fechava os olhos para sentir melhor o abraço embalado. O beijo vinha depois. Com ele marcava o amor maternal que as palavras timidamente diziam. O abraço e o beijo vão sempre mais longe.
                - Até onde gostas de mim? – quis saber o Mateus, trazendo ao presente aquela música que tantas vezes ouvira.
                - Diz-me tu: até onde vai o meu amor? – contornou a mãe.
                - Eu gosto de ti até ao meu coração!
                - Essa medida já conheço! – protestou enquanto lhe fazia cócegas.
                - Até à lua!
                O olhar carinhosamente ameaçador da mãe fê-lo reconsiderar:
                - Até ao Sol!
                - Melhorou ligeiramente!
                - E tu, mãe? – desafiou.
                - Os meus olhos não alcançam a medida do que sinto por ti.
                - Poderás usar uns óculos ou um telescópio! – gracejou.

                Nesse momento, a Teresa passava a correr perseguida em grande alarido pela Clara. Tropeçou mesmo à frente da mãe que, num ápice, a agarrou. A Clara ficou estupefacta com a queda da irmã e muito mais com a rapidez da mãe. Correu para as duas e abraçou-as aliviada.
                - Acho que o amor se mede melhor ao perto! – comentou a Inês, levantando o olhar do aparelho onde parecia estar concentrada.
                 - Também me parece que o amor não mede mais do que a distância de um abraço! – concordou o pai.
                A Teresa recuperou facilmente do susto e a Clara voltou a sorrir:
- Vamos brincar?
E voaram novamente pela sala, bailarinas ao ritmo da imaginação, enquanto o Mateus tentava ainda compreender por que razão tinha sido disparado dos braços da mãe. O tempo trará a resposta.

- Gosto muito de ti!
Nesse momento, a Inês sorriu e convidou sub-repticiamente o Mateus a sair da sala. A mãe também tinha ouvido aquelas palavras do pai e fingia não ser o seu destinatário.
- Gosto muito de ti! – reforçou.
- Eu sei! – respondeu, fixando-o.
- Não me perguntas até onde?
- Pois eu gosto mais deles do que de ti! – desafiou-o, enquanto se levantava.
Algum tempo ficaram calados. Ele pensava aparentemente desarmado. Ela aguardava. Naquela resposta também estava o sentido da vida que parecia perdido naquele instante. Por momentos, fixou a chama que ela avivava na lareira, depois arriscou.
- Queres dizer que em cada um deles há uma adição? - Ela sorriu, incentivando-o a continuar. - Que ao que sentes por cada um deles somas o que sentes por mim?
Seguiu-se um aceno afirmativo e um encolher de ombros como quem garante uma simplicidade.
Então o olhar dele discordou ligeiramente:
- Concordo, mas proponho uma pequena alteração: em cada um deles tu multiplicas!

Daí a pouco, estavam todos no sofá.
- Qual é o filme? – quis saber a Teresa.
- “Sozinho em casa!” – gritaram os outros.
As mantinhas chegavam para todos!

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