A Idade Menina chegou a casa. Saiu
do carro e caminhou em direção ao portão.
- Até logo. Se precisares, liga.
- Até logo – respondeu.
O pai voltou para a cidade. Ela, introvertida,
atravessou o jardim.
Não reparou que o botão da peónia
tinha cedido ao abraço do Sol e abrira em flor como quem sorri a quem passa.
Não reparou na borboleta que
esvoaçava de flor em flor orgulhosa das cores que o Sol lhe oferecera, no dia
em que voara pela primeira vez. Tanto tempo desejou voar que agora não sabia se
havia de voar ou de pousar. Andava por ali, indecisa, de flor em flor. Voar ou
pousar? Pousar e voar.
Não reparou no pássaro que saltava
de ramo em ramo, ensaiando pequenos voos, sempre tentado pelos mais afastados.
Tanto tempo desejou voar mas agora não sabia se havia de voar ou de pousar.
Voar ou pousar? Pousar e voar.
Entrou em casa. Continuava
ensimesmada. Voltou atrás para confirmar se tinha fechado a porta.
Sentou-se a Idade Menina a pensar
na Idade Maior. Ficaram de encontrar-se, aproximava-se o momento. Procurou as
notificações. Nada. Tanto tempo o desejou, tanto tempo o preparou. Sabia que voaria
nos sonhos que desenhara no tempo em que os sonhos ainda não eram sonhos. Sabia que
seguiria pelo caminho a escolher na encruzilhada. Voar ou pousar? Pousar e
voar.
Voltou ao jardim. Levantou o olhar
e, desta vez, reparou no pássaro que aprendia a voar. Observou ainda a
borboleta que pousava delicadamente na peónia que acenava agradecida.
- É linda, não é? – perguntou a
mãe.
- O quê? – estranhou a Idade
Menina.
- A flor da peónia?
- Sim.
- A escolha delas é mais fácil –
continuou a mãe.
- Sim, não têm escolha, dão flor.
- Já decidiste?
As escolhas tornavam a Idade Menina
Maior, voaria com as asas coloridas de sonhos. E reparou novamente no pássaro que
regressava do voo inaugural, certo de que controlava o seu voo e isso fazia
dele um pássaro maior. Voar ou pousar? Pousar ou voar? Voar e pousar.
A Idade Menina tornou-se Maior e
vai voar certa de que terá sempre onde pousar e de que será sempre maior!