Um, dois, um, dois
Andar, descer e subir
Um, dois, um, dois
Não há tempo a perder
Um, dois, um, dois
Todo o dia no carreiro
Um, dois, um, dois
Trabalhamos sem parar
Um, dois, um, dois
Para guardar alimentos
Um, dois, um, dois
E só depois descansar
Um, dois, um, dois
Oiçam bem com atenção
Um, dois, um, dois
As formigas aqui vão
Um, dois, um, dois
Nada nos pode vencer
Um, dois, um, dois
É forte a nossa união
Um, dois, um, dois
A Formiga Teimosa interrompeu a marcha
para grande aborrecimento das companheiras de trabalho. Não era fácil parar
naquela parte do carreiro: a calçada era longa e, além disso, àquela hora, o
Sol aquecia cada vez mais as pedras. À sua frente, estava a gatinha Lucky que
dormitava descansadamente, abrindo e fechando lentamente os olhos, concentrada
nos sonhos que a faziam feliz. Só o rabo se mexia de vez em quando para afastar
algum inseto perturbador.
- Lucky, estás a impedir a nossa
passagem! - protestou a Musculosa.
Mas a gatinha não reagiu.
Manteve-se no mesmo lugar. Foi então que a formiga avançou para lhe dar uma
picada. Aproximou-se do pelo preto e denso. Contudo, percebeu que iria ter
muitas dificuldades para espetar as mandíbulas. Então, foi subindo, subindo,
subindo, pelo corpo da Lucky até que começou a ouvir um som:
Tum... tum... tum... tumtum...
tum...tum...tum...tumtum...
Era o coração da Luky! Tão meigo era
aquele bater que começava a perder a vontade de incomodar o descanso da
gatinha. Afastou-se do coração e procurou a barriga. Mas também aí, para seu espanto,
o som continuava a ouvir-se num ritmo muito apressado e baixinho. Escutou com
atenção:
Tumtumtum…tumtumtum…tumtumtum…tumtumtum…tumtumtum…
Pareciam pequenos tambores.
A Musculosa regressou para junto
das amigas e deu ordens para que contornassem a Lucky e que não a incomodassem.
Que fossem para o formigueiro que ela lá iria ter depois. Primeiro teria de ir
falar com o Sapo Toquinhas.
Facilmente o encontrou debaixo do
seu rododentro.
- Sim, Musculosa. Eu sei o que se
passa. A Lucky não está doente. Ela está prenhe!
- O que queres dizer?!
- Está grávida. Tem gatinhos a
crescer na barriga!
- Como sabes isso?
- Já falei com o Vagaroso, não
temos dúvidas, a forma como caminha, a necessidade de descansar, a barriga que
fica maior a cada dia que passa. Só falta saber quantos gatinhos vão nascer…
Mas isso tu vais ajudar a descobrir.
- Não estou a perceber!
- Vais voltar à barriga da Lucky
para escutar e contar os coraçõezinhos.
Musculosa não perdeu tempo. Daí a
pouco voltava com a novidade:
- São cinco! São cinco!
- Muito bem, amanhã teremos de
começar a preparar o espaço para o nascimento das crias.
- Conta comigo e com as minhas
companheiras.
Também o Mateus estava preocupado
com a Lucky. Comia pouco, queria apenas leite, não corria atrás das borboletas,
passava muito tempo deitada ao Sol.
- Vês, Clara, não parece a mesma,
deve estar doente.
- Pois deve. O que é que podemos
fazer?
- Temos de levá-la ao veterinário.
Ele vai encontrar uma solução.
- É melhor…
- O problema é que ela não é nossa
e passa longos períodos longe daqui.
- Não achas que está muito magra? –
apontou a Clara.
- Sim, mas há qualquer coisa de
estranho com a gata, o corpo está magro mas a barriga não.
Nesse momento, a Inês, que passava por
perto, ouviu as últimas palavras do irmão e observou com atenção a Lucky. Então
resolveu intervir:
- Se calhar vai ter gatinhos!
- Estás a falar a sério, Inês!? A
Lucky vai ter gatinhos!? – exclamaram entusiasmados.
O Mateus aproximou-se para observar
a enorme barriga da gata que o olhava fixamente sem se mexer. Depois
levantou-se e calmamente ultrapassou o muro que limitava o jardim. Deixaram de a
ver e ficaram preocupados.
- Os gatinhos podem nascer a
qualquer momento – lamentou-se a Clara.
- E longe daqui – acrescentou a
Mateus.
A Teresa afastou-se à procura de um
lugar onde a Lucky pudesse ter os filhos. Os irmãos seguiram-na.
Oiçam bem com atenção
Um, dois, um, dois
As formigas aqui vão
Um, dois, um, dois
Nada nos pode vencer
Um, dois, um, dois
É forte a nossa união
Um, dois, um, dois
A Musculosa fez sinal para que
aguardassem. Um exército de formigas alinhadas - e cada uma com uma palha bem segura nas mandíbulas - parou em
frente a uma casota construída no aproveitamento do vão de uma escada de
granito que existia no exterior da casa. A Musculosa dirigiu-se ao Velho
Vagaroso que falava naquele momento com o Sapo Toquinhas.
-Trouxemos a palha conforme
pediste.
- Esperem um momento, o Toquinhas
já sabe qual é o melhor lugar. Ele indica-vos o caminho.
As formigas iniciaram a marcha para
o interior da casota e dispuseram as palhinhas de forma a formarem uma cama
quente e macia no canto indicado pelo Sapo Toquinhas. Ali, a Lucky estaria
protegida para cuidar do nascimento dos gatinhos.
- Agora temos um problema –
lamentou-se o Velho Vagaroso. – Como vamos convencer a Lucky a ficar aqui?
- Antes disso, é necessário que ela
encontre este espaço que preparamos para ela – acrescentou o Sapo Toquinhas.
- Tens razão.
A Formiga Musculosa tinha terminado
o trabalho dentro da casota e preparava-se para regressar ao formigueiro. Ao ouvir
os amigos resolveu intervir:
-Temos uma solução. Deslocamos para
aqui o prato onde a Lucky costuma procurar alimento.
O Toquinhas olhou para o Vagaroso e
acenou afirmativamente com a cabeça. O caracol movimentou os tentáculos para
concordar. As formigas não perderam tempo.
Oiçam bem com atenção
Um, dois, um, dois
As formigas aqui vão
Um, dois, um, dois
Nada nos pode vencer
Um, dois, um, dois
É forte a nossa união
Um, dois, um, dois
- Clara, onde está o prato da
Lucky?! – espantou-se o Mateus, parado no alpendre, com um copo de leite na
mão, enquanto olhava para todos os lados.
- Ainda há pouco estava aqui …–
estranhou a Clara. – Olha, o pai está ali com a mãe, junto às escadas – descobriu
a Clara enquanto corria para lá. O Mateus foi atrás, devagar e com cuidado para
não verter o leite. Antes de se aproximarem, perceberam que algo importante
tinha acontecido. O pai exigia silêncio e olhava para o interior da casota. A
mãe pediu o leite ao Mateus que transferiu cuidadosamente para o prato.
Calmamente, um de cada vez,
espreitou para ver os gatinhos que tinham nascido. A Lucky lambia um deles que
juntamente com os quatros irmãos mamavam descansadamente.
- Cinco! São cinco! – segredava o
Mateus com os olhos muito abertos de espanto e alegria.
- Vamos deixar a Lucky descansar.
Mais logo voltamos.
O Mateus não resistiu:
- Aquele preto e branco vai
chamar-se Malagueta e o outro todo preto Frank.
- Vamos esperar. Temos de cuidar de
todos – aconselhou a mãe.
- Como é que o prato veio parar
ali? – perguntou a Clara.
Olharam todos uns para os outros e
perceberam que ninguém sabia a resposta.
-Podemos ficar com os gatos todos?
– pediu a Teresa.
Entraram em casa muito
entusiasmados.
Junto da Lucky permanecia o Sapo
Toquinhas e o Velho Vagaroso. Num formigueiro improvisado, esperavam também as
formigas comandadas pela Musculosa. Lembraram-se de como tinha sido difícil o
final da tarde anterior. Logo que a Teresa e os irmãos escolheram e limparam
aquele espaço, trataram de o preparar com as palhinhas e de deslocar o prato
para ali. A Lucky facilmente o encontrou e percebeu que aquele era o local
ideal para o nascimento dos filhos.
O Velho Vagaroso resolveu ficar por
ali. Podia ser necessário. O Sapo Toquinhas regressou ao rododendro. As
formigas alinharam-se e voltaram para o formigueiro.
Oiçam bem com atenção
Um, dois, um, dois
As formigas aqui vão
Um, dois, um, dois
Nada nos pode vencer
Um, dois, um, dois
É forte a nossa união
Um, dois, um, dois