O Sapo Toquinhas estava a
descansar sob o rododendro, camuflado entre as folhas e as flores. A dada
altura, começou a ouvir um som que lhe era familiar:
Clique, clique, clique…
Clique, clique, clique…
Clique, clique, clique…
Espreitou para ver. Era uma
das meninas da casa que passava pelos canteiros e escolhia flores que colocava
numa cesta. Olhava demoradamente algumas. Tocava suavemente outras e cheirava delicadamente
aquelas que soltavam inefáveis aromas.
O Sapo Toquinhas seguia-a
encantado pelo clique da tesoura que lhe trouxe à memória uma história antiga.
Uma história que ele conheceu nos primeiros tempos de vida naquele jardim.
Clique, clique, clique…
Clique, clique, clique…
Clique, clique, clique…
Fechou os olhos e
lembrou-se da Princesa que gostava de brincar no jardim, onde imaginava o mundo
e os segredos que ele guardava. Olhava com espanto para as árvores e queria
muito saber o nome de cada uma delas. No verão, adorava regar as plantas para
que ficassem sempre verdes e despontassem as flores cheias de cores e formas.
Também se deliciava com o doce aroma que libertavam todos os dias.
A Princesa foi crescendo
e tornou-se a mais bela mulher do seu reino. O seu sorriso era tão lindo que a
todos encantava. Diziam que tinha aprendido a sorrir com as flores, por isso
era tão brilhante e transparente.
Pouco a pouco o perfume
do seu nome foi percorrendo as terras daquele país e todos os príncipes a
queriam conhecer. Paravam junto ao seu jardim e espreitavam para a ver entre as
flores que todos os dias contemplava e a quem contava os seus segredos.
Nenhum dos príncipes se
atrevia a interrompê-la. O seu sorriso valia mais do que qualquer palavra. Por
isso, ofereciam-lhe flores que ela agradecia e guardava com muito carinho.
Porém, um dia, ela deixou
de aparecer no jardim.
Os príncipes ficaram
muito preocupados pois não sabiam o que tinha acontecido à Princesa. Por que
razão não aparecia ela no jardim? Teria perdido o seu lindo sorriso?
Passaram vários dias.
Alguns príncipes tinham já abandonado a cerca do seu jardim. Então surgiu um
mensageiro junto ao portão que anunciou:
- A Princesa deseja
conhecer o Príncipe que lhe ofereceu uma semente em vez de flores.
Entre os príncipes ali
presentes, encontrava-se o procurado Príncipe que deu um passo em frente para
que o mensageiro o levasse à presença da Princesa.
- Princesa, peço desculpa
pelo meu atrevimento. Uma semente não tem a beleza de uma flor que nos encanta
com as suas cores, com a sua forma e com o seu perfume… - desculpou-se o Príncipe.
- Não quero que peças
desculpa. Ouve, todos me ofereceram flores que pouco tempo depois perderam a
beleza e o encanto. Tu, porém, ofereceste-me uma semente. Quero perguntar-te: o
que queres que faça com ela?
- Quero que a semeies no
teu coração e que a ajudes a crescer! – respondeu prontamente o Príncipe.
A Princesa sorriu, deu a
mão ao Príncipe e voltou a perguntar:
- É só isso que
pretendes?
- Não, princesa, quero
muito ajudar-te a cuidar da semente.
A Princesa voltou a
sorrir e beijou o príncipe.
Algum tempo depois
casaram.
O Príncipe continuou
encantado com o sorriso da Princesa e, nos anos seguintes, por altura da
primavera, foram nascendo encantadoras flores a quem deram os nomes mais
bonitos do reino.
Clique, clique, clique…
Clique, clique, clique…
Clique, clique, clique…
O Sapo Toquinhas abriu os
olhos e reparou que a menina já tinha entrado em casa. Não se livrou foi dos
amigos que se juntaram à volta dele. O Velho Vagaroso tinha percebido que naqueles
olhos fechados havia história e foi o primeiro a desafiá-lo:
- Conta, Toquinhas, todos
têm direito a ouvir essa história que deve ser das mais belas deste jardim.
A Musculosa exigiu
silêncio ao pelotão de formigas que a acompanhava, o Gato Soneca acomodou-se
nas ervas macias, a Tartaruga Pipoca esticou o pescoço à escuta e a Abelha
Teimosa pousou suavemente numa das flores do rododendro.
- O Sorriso da Princesa…
- começou o Sapo Toquinhas.