A manhã já espreitava e o Sapo Toquinhas preparava-se para
descansar. Acomodou-se então debaixo das folhas secas e macias que as árvores
do jardim tinham deixado cair no inverno.
Uma pequena abertura era suficiente para observar tudo o que
se passava à sua volta. Dali, via o alpendre onde os carros esperavam por mais
um dia de movimento; as abelhas e as borboletas que já começavam a escolher as
flores onde pousavam suavemente; o Gato Sonecas que se espreguiçava, enquanto
dava pequenos esticões em cada patinha. Reparou ainda nas minhocas que durante
a noite se aventuraram na longa travessia da calçada que passava perto do seu
rododendro. Como as pedras eram irregulares e rugosas, algumas delas ficavam
exaustas e não terminavam a viagem. As que conseguiam depressa se encolhiam e
enfiavam na terra para recuperar as forças.
A dada altura, fixou o olhar num velho caracol que tinha
parado a meio da calçada. Os tentáculos balançavam à procura de
uma solução e o Toquinhas percebeu imediatamente que ele corria perigo: o Sol
aquecia cada vez mais as pedras e, além disso, em breve, o carro passaria por
ali. De nada lhe valeria recolher-se na sua concha.
Era necessário ajudar o Velho Vagaroso. Nesse
momento, ouviu vozes conhecidas e alinhadas.
Um, dois, um, dois
Andar, descer e subir
Um, dois, um, dois
Não há tempo a perder
Um, dois, um, dois
Todo o dia no carreiro
Um, dois, um, dois
Trabalhamos sem parar
Um, dois, um, dois
Para guardar alimentos
Um, dois, um, dois
E só depois descansar
Um, dois, um, dois
Oiçam bem com atenção
Um, dois, um, dois
As formigas aqui vão
Um, dois, um, dois
Nada nos pode vencer
Um, dois, um, dois
É forte a nossa união
Um, dois, um, dois
Umas das formigas era a Musculosa que passava perto do
esconderijo do Toquinhas com uma folha enorme presa nas mandíbulas. Atrás dela
seguiam centenas de obreiras alinhadas e concentradas no seu trabalho.
O Toquinhas interrompeu-a:
- Musculosa, preciso da tua ajuda. É urgente!
A formiga parou, mas não se mostrou muito satisfeita com
aquele atrevimento.
- Ouve, Toquinhas, espero que seja realmente importante. Eu e
as minhas companheiras não podemos perder tempo. Temos de levar rapidamente
estas folhas para o nosso formigueiro.
- O Velho Vagaroso está no meio da calçada e não consegue
chegar ao jardim sem a nossa ajuda – explicou rapidamente.
- Muito bem, e qual é o teu plano?
Quando o Toquinhas terminou a sua explicação, todas as formigas
o seguiram em direção ao Velho Vagaroso. Levavam com elas uma folha de camélia
larga e resistente.
Oiçam bem com atenção
Um, dois, um, dois
As formigas aqui vão
Um, dois, um, dois
Nada nos pode vencer
Um, dois, um, dois
É forte a nossa união
Um, dois, um, dois
O Velho Vagaroso quando percebeu que uma multidão de formigas
caminhava na sua direção depressa se refugiou na sua concha.
Toc, toc, toc
Toc
Toc, toc, toc
Toc
- Vagaroso, sou eu, o Toquinhas!
O velho caracol reagiu com muito receio.
- Essas formigas são de confiança?
- Vieram comigo para te ajudar.
O Vagaroso tinha muitas dúvidas, por isso, examinou com
atenção o exército de formigas que o rodeava.
Paulatinamente, foi ganhando confiança e saiu da concha.
- Às vezes, esqueço-me de que já sou velho e de que não tenho
forças para estas aventuras. Devia ter ficado no outro canteiro.
- Vagaroso, se o teu desejo é chegar ao canteiro do
rododendro, nós vamos ajudar-te – prometeu a formiga Musculosa.
E deu ordens a todas as formigas que, de imediato,
aproximaram a folha do caracol.
- Vamos, Vagaroso, sobe. O resto é connosco – explicou a
Musculosa.
Nesse instante, abriu-se a porta grande e castanha da casa donde
saíram a correr o Mateus e a Clara, seguidos pela Teresa. A Inês vinha mais
atrás, concentrada na música que escolhia no telemóvel.
Antes de entrar no carro, o Mateus agarrou a bola de basquete
e tentou encestar
uma,
duas,
três vezes.
Por fim, lá conseguiu. Quando ouviu o motor do carro a
trabalhar, correu para o seu lugar. Já lá estavam todos.
De repente, ao olhar pela janela, deu um salto no banco:
- Para, pai! – gritou.
O carro parou bruscamente e o pai olhou-o, procurando
compreender a razão daquele grito.
- Está ali um caracol! Vamos esperar que chegue ao canteiro!
- Já estamos atrasados, filho! Eu tento desviar-me.
E preparou-se para retomar a marcha.
- Não faças isso! – protestaram em coro a Clara e a Teresa.
Nesse momento, o Toquinhas percebeu que o Velho Vagaroso
continuava em perigo. Enviou, então, a abelha Teimosa.
- Não saias de lá até o Vagaroso chegar ao outro lado. Tem
cuidado, é muito arriscado.
- Maaaaaaaaaaãe, uma abeeeeeeeeeelha! – gritou a Inês
apavorada.
Abriram-se os vidros para que ela saísse. Todos agitavam os
braços e tentavam assustar a abelha. Todos menos o Mateus que continuava a
observar o trabalho das formigas.
Oiçam bem com atenção
Um, dois, um, dois
As formigas aqui vão
Um, dois, um, dois
Nada nos pode vencer
Um, dois, um, dois
É forte a nossa união
Um, dois, um, dois
- Missão cumprida! – suspirou de alívio a Musculosa.
Nesse momento, a abelha Teimosa abandonou o carro, passando
muito perto do nariz do Mateus que começava a perceber muito bem aquela
confusão criada pela abelha.
- Pensaste em tudo, Toquinhas! Conseguiste!
O carro estava finalmente em movimento. O Velho Vagaroso
estava prestes a deixar a folha que o salvara. As formigas retomaram a sua
marcha para o formigueiro. A abelha Teimosa voou à procura de flores. O
Toquinhas sorriu discretamente e voltou a esconder-se nas folhas para o
descanso merecido.
O Mateus ficou radiante e foi cantarolando durante a viagem
para a escola.
Um, dois, um, dois
Andar, descer e subir
Um, dois, um, dois
Não há tempo a perder
Um, dois, um, dois
Todo o dia no carreiro
Um, dois, um, dois
Trabalhamos sem parar
Um, dois, um, dois
Para guardar alimentos
Um, dois, um, dois
E só depois descansar
Um, dois, um, dois
Oiçam bem com atenção
Um, dois, um, dois
As formigas aqui vão
Um, dois, um, dois
Nada nos pode vencer
Um, dois, um, dois
É forte a nossa união