- Pai, hoje, vais escrever uma história sobre o Pandinha, a Joaninha, o Unicórnio e o Passarinho!
- Vou?!
O convite da
menina trazia escondida a certeza da resposta e, por isso, não esperou o tempo
suficiente para que o pai encontrasse um obstáculo qualquer. Um daqueles
aborrecidos que sempre impedem o sonho e que nos amarram ao presente
descolorido.
Ficaram aquelas
criaturas, carinhosamente embrulhadas no nome dado, à espera de uma oportunidade.
A menina apresentara-as daquela maneira, recortadas, pedaços da história onde
as tinha encontrado, abandonadas junto à vontade do pai.
O Pandinha, a
Joaninha, o Unicórnio, o Passarinho!
Quem as
escuta? Quem
as recolhe,
assim,
cruéis,
desfeitas,
nas suas
conchas puras?
Que acaso as
uniu, assim, vestidas de pequenez aveludada?
O Pandinha
esperava pacientemente pela folha escondida no rebento que despontava no
poderoso tronco. Um pouco mais acima, uma Joaninha pousou e aí ficou. Nem as
antenas se moviam.
- Posso
ajudar? – perguntou lentamente o Pandinha.
Silêncio.
Aproximou-se
dela e suavemente orientou duas folhas onde permaneciam algumas gotas de
orvalho. Então, o líquido precioso percorreu a carapaça vermelha, levando
consigo o veneno azulado que a tinha atingido nos campos próximos dali.
- Obrigado! –
murmurou.
O Pandinha
sorriu honestamente e derramou sobre as Joaninha mais uma gotinha.
- Tens de
procurar outra terra. Tenho um amigo capaz de te ajudar.
E, tranquilamente,
aguardaram a chegada do Passarinho que só regressaria ao final do dia para descansar
no ninho que tinha construído nos ramos mais altos daquela árvore.
- Todos os
dias, o passarinho percorre terras que os nossos olhos nunca alcançaram. Ficam para
além daqueles montes. Lá encontrarás um lugar onde as tuas asas serão livres!
- Estarão
nesse lugar as minhas companheiras?
- Talvez…
Porque não foste com elas?
A Joaninha não
respondeu. Mas o Pandinha logo percebeu que ela tinha sido a última a fugir.
Nenhuma companheira tinha ficado para trás, presa nas folhas inundadas pelo líquido
perigoso.
- Chegou o teu
amigo! – reagiu a Joaninha.
- Não o vejo.
- Está no
ninho – afirmou a Joaninha que tinha sentido a ligeira vibração provocada pelo
passarinho.
Daí a pouco
estavam juntos.
- Sim, vi as tuas
companheiras esta manhã. Voam brilhantes de folha em folha. Se quiseres, posso
levar-te até lá, ao nascer do dia.
E ficaram os três
serenamente em descanso. O Pandinha amigavelmente abraçado ao robusto tronco. A
Joaninha delicadamente adormecida numa suculenta folha. O Passarinho cuidadosamente
aconchegado no altaneiro ninho.
A Teresa fixou
alguns segundos o desenho que tinha deixado nas mãos do pai. Por fim, reagiu:
- Esqueceste-te
do Unicórnio!
Estava cercado
por aquele desabafo triste.
- Ainda não o
encontrei… queres ajudar-me?
A menina
sorriu e libertou o pai, dando-lhe um abraço apertadinho.
E foram ambos
à procura.