- Pai, quando vamos a casa da avó?
A pergunta trazia um vazio
agarrado, vinha vestida de saudade. Era um protesto sublinhado pelos olhos que
o fixavam intensamente.
- Já falta pouco!
- Quando chegarmos, posso
dar-lhe um abracinho?
O pai refugiou-se nos olhos da
mãe que ao lado também ouviu a pergunta da Teresa. Uma lágrima atreveu-se antes
das palavras.
- Que tens, pai?
Nada.
Não tinha nada.
Desde quando uma criança pede autorização para abraçar!?
Desde quando um abraço carece de permissão?
Que afluente duvida na hora em que se lança ao rio ou ao mar onde se
confunde?
Que flor tocada pelo Sol resiste à luz que a incendeia de cor e lhe
muda a forma?
- Não tarda, poderás dar o
abraço que há muito guardas no teu coração.
- Eu sei, pai, é por causa do
covid… Não faz mal! - resignou-se a encantadora menina.
Palavras simpáticas, inteligentes.
Mas não traduziam a dor que lhe cercava o sorriso.
Os abraços inacabados pesam nos braços,
enquanto esperam pelos ombros reconfortantes.
Os abraços imperfeitos aguardam o aroma,
a melodia da respiração liberta de compassos.
- Venham cá! – propôs o pai de braços abertos. – Eu e a mãe queremos desejar-vos um feliz ano novo!
- Que nunca nos faltem os abraços! – gritou o Mateus, no momento em que
a Clara, a Teresa e a Inês também desaguavam naquele abraço desmedido.
- E agora todos para casa dos avós!
- Viva! - festejou a Teresa.