O pai fixou o rosto da Teresa que na pequena mesa
vermelha dava voltas à massa elástica e colorida, acomodando ali a sua imaginação.
-
Obrigado, pai! Este é o melhor dia!
E
lá continuava com a mão na massa, alisando, amassando, moldando. Em cada gesto
uma história, em cada forma uma vitória!
Aquelas
palavras ficaram a brilhar no ouvido. Este é o melhor dia! A mãe também as tinha
ouvido, fixando a filha, perdendo-se de imediato nas memórias, deixando à porta
um sorriso materno.
-
É um amor para sempre! – exclamou o pai.
Não
obteve resposta.
-
É um amor para sempre. Não daqueles que colocamos no friso das histórias que
desaparecem ao fim de umas horas. Aparece, desaparece, esquece.
Aparece, desaparece, esquece.
Desaparece, esquece.
Esquece.
Não obteve resposta.
- Um amor assim permanece.
Acontece constantemente onde as memórias nos abraçam e o futuro nos beija de
surpresa. Um amor assim permanece, não achas?
Não obteve resposta.
A Teresa tocou ligeiramente no
ombro da mãe.
- Diz, filha!
- O pai está a falar contigo.
- Desculpa, estava a pensar… Não
ouvi.
- Não há problema. Ao olhar a
Teresa, provavelmente, pensavas sobre o mesmo que eu- arriscou.
Sim, pensava.
Pensava que havia um compromisso
em cada movimento,
em cada palavra,
em cada sorriso,
em cada desejo,
em cada sonho
daquela menina.
Que havia o conhecimento que os
percorria até às entranhas.
Que havia a confiança que os
mantinha de braços abertos.
- Eu dizia que os filhos nos
obrigam à eternidade! – continuou o pai.
Ela acenou afirmativamente, num
gesto que lhe garantiu que o amor para sempre não pergunta se é para sempre,
acontece,
permanece no beijo,
no olhar que se demora em
silêncio,
na mão que conhece a forma do
carinho,
nas palavras que respeitam o
silêncio,
no tempo que não é nosso.
- Mãe, este é o melhor dia! –
repetiu a Teresa, levantando a massa colorida que parecia ter conquistado a
forma do amor e que tinha acabado de receber.