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A lição das folhas




O Mateus observava, pela janela, as árvores que se agarravam à terra. Admirava a sua vontade e resistência - mesmo despedidas, permaneciam direitas, elevadas, à espera do Sol que sem vem.
- O que vês lá fora? – quis saber o pai.
- As árvores.
- Porquê?
- Não sei bem, estou a olhar e parece-me que estou um pouco confuso.
- Porquê?
E o Mateus explicou, completando com gestos eloquentes os espaços que as palavras deixavam vagos.
- Já reparaste na forma das árvores?
Queria o rapaz mostrar que, em parte, aquelas árvores se assemelhavam a um triângulo.
- Tu queres dizer uma pirâmide? – ajudou o pai.
- Sim, uma pirâmide, pode ser.
O pai apontou então outras copas divergentes na forma.
- Sim – concordou o Mateus – mas, se reparares, em todas elas, as folhas, todas as folhas, mesmo diferentes, permanecem verdes.
E continuou para explicar que os ramos fazem uma cadeia solidária até às folhas mais altas. O pai começava a perceber a lição das folhas, espantando-se depois, discretamente, com tantas outras pirâmides incapazes de manter as folhas verdes.
- O segredo está nos ramos e nas raízes – concordou o pai, revelando, nas suas palavras, a inversão da importância. Assustadora esta lição de poder!
E o Mateus voltou a fixar as folhas. Também ele era uma folha verde, ávida de altura, ávida de luz. Garantia-lhe a cor e a forma a seiva interior que os braços fortes e constantes lhe faziam chegar.

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