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Onde moras?


Ato único

 

Uma praça. Atua um músico de rua iluminado no lado esquerdo do proscénio. À direita, ilumina-se também um banco de jardim junto à montra de uma livraria.


I

André

(Pensativo. Passa pelo músico de rua, para uns segundos, e, mecanicamente, deixa-lhe uma moeda, retirando um pequeno cartão disponível no estojo da viola. Gesto agradecido do artista.)

 

Francisco

(Sentado no banco junto à montra. Interrompendo a leitura de uma antologia de poesia portuguesa.) Bom dia, André! Vais com pressa ou tens tempo para um café? Precisava de falar contigo.

 

André

(Para cumprimentar Francisco, muda de mão os documentos que traz consigo e deixa cair, inadvertidamente, o cartão que tinha recolhido.) Bom dia, Francisco! Hoje é complicado, tenho de ir às Finanças e já estou um pouco atrasado.

 

Francisco

Tudo bem, fica então para outro dia.

 

André

Por mim, pode ser já amanhã. Passo por aqui à mesma hora.

 

Francisco

Obrigado, amigo, conto contigo amanhã. (André sai.)

 

  

II

 

Francisco

(Repara no papel que André tinha deixado cair.) Que papel é este? (Apanha-o, fixa-o durante algum tempo. Lê.) João 1, 35-36. É uma passagem bíblica!? Deixa cá ver. Acho que que tenho aqui uma aplicação. (Consulta-a no telemóvel.) Cá está. (Lê.) “No dia seguinte, João encontrava-se de novo ali com dois dos seus discípulos. Então, pondo o olhar em Jesus, que passava, disse: «Eis o Cordeiro de Deus!»”. Estranho. O André não é nada destas coisas.

 

 

 III

 

 

Pedro

(Também de passagem pela praça.) Bom dia! Também já não passas sem o telemóvel!

 

Francisco

Pedro?! Que surpresa! Apareces assim sem dizer nada?! Senta-te um pouco…ou queres ir lá dentro ver algum livro em especial?

 

Pedro

Não. Hoje não. (Senta-se.) Vou daqui a pouco a uma consulta e já nem sequer passo pelo escritório. (Repara no cartão que se encontra em cima do banco.) Ainda usas cartão de visita? (Observa-o com atenção. Espanta-se.) Andas a ler S. João?

 

Francisco

Esse papel deixou-me curioso. Estava precisamente a procurar a passagem quando chegaste. Pensava que era um documento qualquer que o André tinha deixado cair quando esteve aqui há pouco, mas não…

 

Pedro

O que diz?

 

Francisco

Podes ler. (Entrega-lhe o telemóvel).

 

Pedro

(Lê em silêncio.) Mas este texto é uma maravilha! Repara na atitude de João. Este é João Batista, certo? (Gesto afirmativo de Francisco. Lê.): “João encontrava-se de novo ali com dois dos seus discípulos. Então, pondo o olhar em Jesus, que passava, disse: «Eis o Cordeiro de Deus!»”

 

Francisco

É um texto conhecido. Não vejo a novidade…

 

Pedro

Aí é que te enganas. Nos tempos que correm, este episódio, ou melhor, o que ele propõe, é fundamental.

 

Francisco

Como assim?

 

Pedro

Penso que a questão é esta: para quem apontamos nós?

 

Francisco

Confesso que nunca tinha pensado nisso!

 

Pedro

Mas é uma questão estruturante.

  

Francisco

Realmente, reparando bem, à minha volta, vejo muita gente que só aponta para si própria…Pessoas que não enxergam, que não alcançam nada para além de si.

 

Pedro

Mas também há pessoas que arrastam multidões, para quem vale a pena apontar. Pessoas que nos renovam, que nos inspiram, que nos elevam! E é para elas que é preciso apontar!

 

Francisco

Certo, na verdade, há pessoas que nos acrescentam, que quebram as nossas rotinas e nos obrigam a subir mais um degrau.

 

Pedro

(Concordando.) Pessoas a quem foi atribuído o prémio Nobel da Medicina, da Literatura, da Paz ou o prestigiado prémio Pessoa. Ou pessoas que nunca se fizeram notar, mas que, silenciosamente, mudam o mundo!

 

Francisco

(Acaricia o livro de poesia que tem nas mãos.) Cada um deles é um cedro desmedido no centro de uma pequena floresta! Torga falava de Camões, mas não será abusivo generalizar o sentido dos seus versos. Muitos outros se têm destacado.

 


IV

 

Augusta

(Vem do interior da livraria.) Bom dia, Pedro! Desculpem, preciso da tua ajuda, Francisco. (Repara por momentos no músico que continua a cantar.) Quem será aquele rapaz? Não o conheço destas paragens. Dói-me a alma só de ver estes jovens cheios de talento a tocar pelas ruas. (Para Francisco.) Vens lá dentro, por favor. Só um momento, Pedro, voltamos já. (Entram na livraria.)

 

 

V

 

 

Pedro

(Observa novamente a citação.) É incrível como nos falta a coragem de João! Apontamos para tantos homens e muito pouco para Jesus. Um receio, uma arrogância ou vergonha coletiva de admitir que n’Ele reside o sentido da nossa existência. Apontamos soluções transitórias, que não passam de respostas incompletas, mirradas pela prepotência, pelo narcisismo do homem que pensa poder justificar-se, explicar-se a si próprio. Tanta coisa nos tem afastado desse Jesus que João revelou. Escondemo-lo em casa, escondemo-lo nas escolas, escondemo-lo nas ruas… somos um leito sem água! (Entra também na livraria.)

 

 

VI

 

Ana

(Com Maria, ouve durante algum tempo o músico, enquanto consultam constantemente o telemóvel. Depois, retira do estojo da viola um pequeno papel que não lê e entrega a Maria. Avançam em direção à livraria.) Toma, Maria, música e concertos é mais a tua praia.

 

Maria

Não sejas parva! O rapaz até canta muito bem. Deixa-me ver. (Lê.) O que é isto?! Parece um código. Alguma palavra-passe, que maluqueira! Este tipo é muito estranho. Mas a voz dele faz-me lembrar alguém… sabes descodificar estes números?

 

Ana

Dá cá. (Observa e reage de imediato.) Maria, não acredito! Tu não sabes o que isto quer dizer?! Isto é uma passagem bíblica. Esta abreviatura refere-se a S. João. Os números referem o capítulo e os versículos: primeiro capítulo do Evangelho de S. João, versículos 35 a 36.

 

Maria

Uau! Onde aprendeste isso?

 

Ana

Com os meus pais, sei lá, na catequese. (Param em frente à livraria.)

 

Maria

Nunca me tinhas falado nisso. Os meus pais não ligam nada a essas coisas da religião. Dizem que eu é que tenho de decidir quando for maior, tipo, se me quero batizar e essas coisas. Eu até acho bem, para quê impor uma religião quando nós somos pequenos? Faz mais sentido optar quando somos crescidos e com capacidade para pensar e decidir.

 

Ana

O que estás a dizer é que acreditar em Deus, em algo que nos transcende, pressupõe uma determinada idade, que é necessário ser adulto!? Pois eu não acho. Há dias ouvi alguém falar sobre fé e adorei a forma simples como foi explicada. Dizia que a fé é confiança, conhecimento e compromisso. Chamei-lhe a lei dos três cês. E não me parece que seja necessário ter dezoito anos para confiar. Admito que o compromisso e o conhecimento exijam algumas capacidades que uma criança pode ainda não ter devidamente desenvolvidas, mas ninguém como uma criança para acreditar, para confiar.

 

Maria

Nisso tens razão. Ainda me lembro, quando era pequena, das vezes em que me atirava para a piscina sem saber nadar só porque o meu pai já lá estava. Uma criança nunca põe a hipótese de o pai ou a mãe a deixar cair. Atira-se com toda a confiança para os seus braços...

 

Ana

Então, porque não pode uma criança ser iniciada na fé? Ainda há dias discutia essa questão com o um professor. Parece que temos medo de acreditar e pomos de lado tudo aquilo que escapa à nossa capacidade. Como se nós fôssemos a medida de tudo, não admitindo aquilo que não alcançamos. Se Deus coubesse nos nossos esquemas mentais, então já podíamos acreditar na sua existência…

 

Maria

Nunca te tinha ouvido a falar assim.

 

Ana

Há questões que me deixam alterada. Para mim, não faz sentido sermos criaturas para o nada. É um absurdo. Acredito que a minha vida faz sentido porque faz parte de um projeto maior do que eu, de uma arquitetura divina capaz de responder a perguntas essenciais: quem sou eu? De onde venho? Para onde vou?

 

Maria

(Ri, causando a Ana um esgar de espanto e dúvida.) Agora lembraste-me a história do Bocage contada pelo professor de português… qualquer coisa do género: Bocage era um boémio incorrigível e, um dia, em plena noite, de regresso a casa, foi abordado por um polícia que lhe perguntou: quem és tu? De onde vens e para onde vais? E ele, ébrio, respondeu de forma original e engraçada: (Mima o poeta.) “Eu sou o Bocage, / Venho do Nicola / E vou para outro mundo / Se disparas a pistola.” (Ambas riem.) Como vês, Bocage não tinha os nossos problemas existenciais.

 

Ana

Vais ficar aí na livraria com os teus pais?

 

Maria

Sim. Entra também um pouco. Ainda tens tempo. Quero que me ajudes a verificar o texto referido nesse papel. (Entram. O músico termina a sua intervenção, arruma e sai. Apagam-se as luzes no proscénio. Luzes no interior da livraria.)

 

 

VII

 

Maria

Pai, já cheguei, a Ana está aqui comigo. (Ana cumprimenta os presentes com um gesto simpático.) Onde posso encontrar uma Bíblia?

 

Francisco

(Aproximando-se, não esconde o espanto.) Há uma aí na estante. Algum trabalho para Filosofia? Vão fazê-lo em conjunto?

 

Maria

Não, apenas para desvendar um pequeno mistério que nos caiu nas mãos.

 

Pedro

(Aproxima-se também.) Deixa-me adivinhar, João 1, 35-36.

 

Ana

Senhor Pedro, jogue no Euromilhões! Tudo certinho! Recolhemos este papel ali na praça. Está lá um rapaz que distribui estes papéis a quem passa. Não me diga que também tem um!?

 

Pedro

Nem mais. (Maria tem já na mão uma Bíblia.) Procura aí a passagem. (Espera que encontrem e leiam o texto.) Estranho, não é? O que quererá aquele sujeito com este convite? Sim, porque isto funciona como um convite do género: leiam esta passagem, por favor. (Recebe das mãos de Maria a Bíblia.)

 

Maria

E…

 

Ana

E o quê?!

 

Maria

Que importância tem este texto para a minha felicidade? (Augusta aproxima-se e lê também.) Não vejo nada de transcendente, João aponta para Cristo e diz: «Eis o Cordeiro de Deus!»

 

Augusta

Estás enganada, Maria. (Esgar Maria que procurar revelar a incongruência da mãe.) Eu sei que optamos por não vos batizar, nem a ti nem ao teu irmão, mas, ultimamente, tenho dialogado muito com o teu pai sobre a necessidade de acompanhar o crescimento espiritual das crianças, e acho que nos enganamos ao privar-vos do batismo e dos valores que Cristo propõe nas suas palavras… (Espanto geral.)  Nunca é tarde! (Exclamação acompanhada de um sorriso genuíno. Volta à passagem.)  E digo mais, João não apontou para qualquer pessoa, entendes, Maria? E nisso é que está a verdadeira questão e que nos deve fazer pensar. Por exemplo, andam por aí constantemente a apontar para verdadeiros embustes e, se não tivermos cuidado, espírito crítico, somos convencidos da sua importância que, na verdade, não passa de uma ilusão, de uma mentira. Quais são os verdadeiros valores do nosso país? Melhor, quem conhece as figuras ilustres desta terra? Quem os aponta para que outros os imitem na sua ação social, cultural e espiritual?

 

Francisco

Tens razão! Além disso, ultimamente, o único caminho que somos capazes de apontar aos nossos jovens é o caminho da emigração! É uma desilusão o exemplo que estamos a dar.

 

Maria

Uma sociedade parva! Gasta rios de dinheiro na nossa formação e depois empurra-nos para longe.

 

Pedro

(Interrompe.) É muito interessante a continuação deste episódio. (Continua a ler o capítulo do Evangelho referido.)37Ouvindo-o falar desta maneira, os dois discípulos seguiram Jesus. 38Jesus voltou-se e, notando que eles o seguiam, perguntou-lhes: «Que pretendeis?» Eles disseram-lhe: «Rabi - que quer dizer Mestre - onde moras?» 39 *Ele respondeu-lhes: «Vinde e vereis.» Foram, pois, e viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia. Eram as quatro da tarde.”

 

Francisco

Acho que estás a desviar-te da conversa.

 

Pedro

De maneira nenhuma. Repara, não basta seguir alguém, por outras palavras, não é suficiente apontares para alguém que deva ser seguido, Cristo parece querer dizer-nos que importa que cada um saiba o que quer, que defina muito bem os seus objetivos… Que pretendeis é uma pergunta muito poderosa.

 

Augusta

De facto, não basta seguir, importa um objetivo, ter consciência e controle dos passos que damos. Que pretendemos!? Deveras desarmante!

 

Maria

Acho que se esqueceram de fazer essa pergunta ao Bocage! Que pretendes?... O que é que ele teria respondido?

 

Ana

Maria, por favor…

 

Pedro

Força, Maria, diz lá o que pensas sobre esta questão.

 

Maria

Não sou a mais indicada para isso. Mas admito que é uma pergunta fundamental que poderá figurar ao lado de outras que questionam a nossa existência. Que pretendeis? É mesmo isso, o que queremos fazer da nossa vida.

 

Francisco

Confesso que ultimamente me tenho assustado um pouco com as respostas que vou conhecendo à minha volta.

 

Pedro

Também a mim me preocupa essa situação. Por vezes, parece que vivemos de tal forma que parece ter ruído tudo…

 

Ana

Não aceito essa visão. O nosso tempo é muito bom. As pessoas continuam maravilhosas. O que não funcionam hoje são determinadas formas de pensar a família, determinadas formas de viver a relação com Deus, determinadas formas de orientar a escola…

 

Maria

Exato. E somos nós que temos de encontrar uma síntese para estas ruturas.

 

 

VIII

 

(André chega perto da livraria, hesita, mas acaba por entrar.)

 

Francisco

André!? Então?

 

André

(Cumprimenta os presentes.) Bom dia! (Para Francisco.) Eu sei que tinha dito que já não passava por cá, mas resolvi tudo mais depressa do que esperava. E estou preocupado com o que tens para me dizer. (Escolhem um espaço mais recolhido.) Em que posso ajudar-te, Francisco?

 

Francisco

Tu não imaginas a discussão que causaste. Um simples papel que aqui deixaste deu origem a uma conversa muito interessante. Primeiro com o Pedro, depois com a Maria e com a Ana…

 

André

Papel!? Deixei aqui algum documento? Não dei pela falta dele.

 

Francisco

Quando, esta manhã, passaste pelo rapaz que canta na praça, ele ofereceu-te um papel, um cartão, no momento em que lhe deste dinheiro. Depois deixaste-o cair aqui sem dares conta.

 

André

Agora que falas, recordo que notei algo familiar naquele rapaz. Mas do papel não me recordo; são aquelas coisas sem sentido que nos acontecem. Enfim, mas diz então o que te preocupa.

 

Francisco

Estou desiludido, dececionado, o meu filho fala constantemente em sair do país. Eu sei que não há mal nenhum nessa decisão. É jovem, tem formação e irá encontrar oportunidades que aqui não existem.

 

André

Então estás preocupado com o quê? Insegurança? Temes que por lá constitua família e não volte?

 

Francisco

Essas também são razões muito importantes a considerar. Porém, outras se impõem: primeiro sei que não é fácil encontrar trabalho, segundo, e mais relevante, eu sei que ele não quer ir. Prefere ficar no país.

  

André

Não faz sentido esta situação. Afinal, eles podem, porque os formamos, eles querem, e sabem o que querem, porque têm entusiasmo, ousadia… e que caminho lhes apontamos? Um beco sem saída. É tudo quanto temos para lhes propor.

 

Francisco

Que coincidência! Eu que não tenho dado muito espaço a Deus na minha vida, atrevo-me a dizer que esta situação parece ter mão divina. (Espanto de André.) O papel que aqui deixaste remete para um texto que diz algo parecido com o que acabas de defender. (Juntam-se aos restantes. André observa o papel e lê a passagem.)

 

André

Embaraçador. Verdadeiramente. A verdade é que não temos a força de João. João tinha quem apontar, sabia para quem apontava, nós não.

 

Maria

Mas é apenas isso que têm a dizer?

 

Francisco

Maria, o senhor André refere-se concretamente ao caso do teu irmão. Eu falei-lhe da necessidade de ele emigrar, solução que ele não quer, mas sente-se obrigado a tal.

 

 

IX

 

(O músico entra pela esquerda e dirige-se para a livraria, onde entra depois de uma breve hesitação.)

 

Ana

Já que este texto nos uniu aqui, atrevo-me a dizer que ele também poderá sugerir uma solução. Eu começava, por exemplo, por ir chamar o músico que está lá fora na praça. Era interessante saber por que razão espalha estes papéis. (Espantam-se com a presença do músico que tira o chapéu quando dão pela sua presença.)

 

Maria

João! Não acredito. Eras tu ali na praça?! Qual é tua ideia? Não ias fazer um inter-rail? E que barbas são essas?!

 

Francisco

Deves ter uma boa explicação! Afinal, se não foste com os teus amigos, onde estiveste estes dias todos?

 

Ana

Bem me parecia que a voz era familiar, mas com esse chapéu e com essas barbas…

 

João

Sim, pai. Foi a forma que encontrei para recentrar a minha vida. A dada altura, senti que me encaminhava para um beco sem saída. Faltava-me profundidade, aquela sensação de que a minha vida faz sentido para além daquela curva que os meus olhos alcançam.

 

André

Muito bem, João! Palavras dignas de um jovem atento e interventivo!

 

João

Há tempos, passeava os dedos e os olhos pelas publicações de uma rede social onde supostamente tenho centenas de amigos… e encontrei esta passagem bíblica que me fez refletir sobre o sentido da nossa vida que não pode reduzir-se ao sucesso profissional e à riqueza que acumulamos. A partir daí também há humanidade e, tal como disse Jesus, «vinde e vereis».

 

Maria

E o inter-rail?

 

João

Não o fiz, nem sequer comprei o bilhete. Ao longo destes três meses, percorri várias localidades do nosso país, toquei, cantei, distribuí esses cartões… Fui enviando mensagens para vos descansar e, tal como vos disse, não publiquei nada nas redes sociais… Acima de tudo, apetecia-me seguir o conselho de João. Foi um tempo de descoberta e de escolhas.

 

Francisco

Mas podes dizer-nos o que estás a pensar fazer?! Não vais seguir engenharia? Não vais procurar emprego na área de programação?! Eu sei que não queres sair do país, mas as nossas empresas não têm capacidade para competir com as remunerações que se pagam noutros países…

 

Augusta

Deixa-o falar!

 

Francisco

Por isso, nós não te vamos deixar sem apoio. Podemos ajudar-te a encontrar e a suportar as despesas de uma casa nos primeiros anos de trabalho. Tenho a certeza de que encontrarás uma oferta de emprego aliciante no nosso país… (Para, quando repara nos gestos de Augusta que o manda calar.) Certo… Fala, filho, queremos muito ouvir-te!

 

João

Vou estudar teologia. Vou consagrar-me e tornar-me missionário!

 

Surpresa geral. Augusta abraça-o, Francisco senta-se, chocado.

 

Maria

Missionário! Padre!?

 

Ana

Porque não? Adoro a ideia. E digo mais, quando estiveres preparado, serei a primeira a apoiar as tuas causas!

 

Francisco

Mas tu que não querias sair do país!


João

Pai, há muito a fazer na nossa terra. Não te esqueças das palavras que há pouco lias: «Mestre - onde moras?» Ele respondeu-lhes: «Vinde e vereis.» É o que vou fazer! E conto com o teu apoio. Dá cá um abraço!

 João, pega na viola, toca e cantam “Rabi, onde moras?” de Ir. Maria Amélia Costa, FHIC.


FIM 

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