O Sapo Toquinhas estava feliz. Dias antes, tinha
estado no canteiro da oliveira onde já não ia desde a primavera anterior. O
Velho Vagaroso tinha sido quem o aconselhara a passar por lá.
O canteiro tinha orgulho na velha oliveira que
observava em silêncio todo o jardim. As rugas do tempo que marcavam o tronco
davam-lhe uma certa majestade. As folhas que libertava pareciam lágrimas que se
aconchegavam na erva verde para, aos poucos, desaparecerem. Diziam que a terra
as acolhia para reencontrarem a raiz que lhes tinha dado vida.
Nesse dia, o Toquinhas entrou por um dos extremos
onde crescia uma tília sempre viçosa, cujos rebentos, ávidos de Sol, até das
raízes surgiam. Nesse canto, havia sempre água e as plantinhas acotovelavam-se
para aí terem lugar. Uma sinfonia de cores, formas e perfumes!
O Velho Vagaroso tinha razão, valia a pena aquela
visita!
Mas, de repente, encolheu-se, pronto para o maior
salto da sua vida. Só os olhos giravam, auxiliando os ouvidos atentos. Ali bem
perto as ervas mexiam-se e ele tentava adivinhar o que se deslocava na sua
direção. Quieto. Silêncio.
Pouco a pouco, foi reconhecendo as formas que o
animal misterioso foi mostrando. Respirou então de alívio e de espanto.
- Quem és tu?
- Sou a Curiosa.
- Curiosa?! Nunca te vi por aqui.
- Pois não. Há dias arrisquei entrar por aquele
portão castanho que abre por momentos todos os dias. Do outro lado, ficaram os
meus pais e os meus irmãos.
- E queres voltar? Posso ajudar-te. Conheço os
horários do portão.
- Não, quero conhecer melhor este jardim.
- Podes ficar comigo no canteiro do rododendro,
temos espaço para mais um. Queres?
A Curiosa nem queria acreditar.
- Sim! Mas não me disseste ainda o teu nome.
Pelo caminho, o Toquinhas apresentou-se e quis
conhecer melhor a rã que o acompanhava. A sua preocupação principal era agora
encontrar um pequeno lago junto ao rododendro para a sua nova amiga. Em tempo
de chuva não seria difícil. Mas o verão aproximava-se e a solução estava no canto
da torneira amiga. Uma torneira teimosa que não deixava que a apertassem
demasiado para assim libertar algumas gotas. A seus pés, havia sempre um
pequeno lago onde os animais que por ali passavam matavam a sede. A Curiosa
podia lá ficar escondida atrás do cano que sustentava a torneira.
Mais uma vez o Velho Vagaroso tinha razão. No
alpendre e do alto da coluna de granito, o vetusto caracol já tinha visto a Curiosa
e queria que o Toquinhas a acolhesse!
Já perto do canteiro do rododendro, o Toquinhas
parou para ver com atenção as formigas no carreiro.
- Parecem desorientadas! – afirmou a Curiosa.
Naquele lugar do carreiro, as formigas, que até ali
seguiam alinhadas, paravam, depois andavam aos círculos ou iniciavam direções
que logo interrompiam por insegurança.
O Sapo Toquinhas observou-as com mais atenção e
verificou que havia naquele sítio um cruzamento de carreiros. Quando ali
chegavam, as formigas ficavam confusas. Que sinais seguir? Os estímulos eram
variados e as referências divergentes. Aquelas criaturas não sabiam por onde
seguir.
- Será melhor avançarem todas pelo mesmo carreiro?
– perguntou a Curiosa.
- Não. Parece-me que não é a melhor solução para
todas. Anular um dos carreiros torna as formigas mais pobres. O melhor é que se
mantenham os dois e que as formigas os vejam, os conheçam e façam as suas
escolhas. Que sigam pelo caminho desejado e adequado.
E rapidamente fez sinal à Curiosa que o ajudou a
colocar no cruzamento um ramo curvado que fazia uma espécie de ponte.
Esperaram.
Em pouco tempo, as formigas reorganizaram-se e,
alinhadas, seguiram para casa, certas das referências escolhidas.
O Toquinhas explicou então à Curiosa que os sinais
que elas seguiam só elas sabiam descodificar. Todos bem visíveis, uns indicavam
saídas proibidas, outros direções autorizadas, outros ainda sugeriam caminhos a
desvendar. E as formigas caminhavam certas de que os sinais eram todos
necessários. A falta de uns seria a fragilidade dos outros.
Chegaram, por fim, ao canteiro do rododendro. Ao
lado, ficava o canto da torneira amiga onde se recolheu agradecida a Curiosa.
Por isso, o Sapo Toquinhas estava feliz.
Ao longe, ainda se ouviam as formigas que chegavam
aos formigueiros.