O Mateus estava deitado no sofá. Tinha os olhos
brilhantes, dores de cabeça e um dente que se despedia dos outros, suspenso na
frágil gengiva, que o rapaz constantemente verificava com a língua.
- Pai, podes ver se tenho febre?
- Deixa ver… vou buscar o termómetro.
Daí a pouco, o aparelho sugeriu algum cuidado.
- Espera, vou falar com a mãe. Acho que
precisas de tomar um remédio para baixar a febre.
- Remédio?!
- Medicamento.
- Não quero nada disso!
O pai não respondeu ao protesto. Voltou daí a pouco
com um frasco conhecido e uma colher apontada à boca do rapaz.
- Água, quero água – suplicou, na tentativa
de contrariar o sabor que lhe invadia a boca.
Passada a tormenta, voltou a deitar-se. Fechou os
olhos, mas deixou escapar um ligeiro sorriso que o pai interpretou
imediatamente.
- Acho que já estás a ficar melhor!
- Pai, já escreveste a história sobre a árvore de
Natal? Tu prometeste!
Uma história sobre a árvore de Natal… Não, ainda
não. As palavras fugiam das ideias, ou as ideias das palavras. Sentia-se um leito
seco, sem imaginação. Mas, de repente, foi ganhando forma.
Verde.
Sempre verde.
Ascendente.
Dançava ao sabor do vento,
agarrando-se à terra,
sempre que ele, agitado, desafiava o seu
equilíbrio.
Raízes fundas para crescer,
alcançar as alturas, crescendo na terra sem se ver.
Um dia, tocou as estrelas e uma delas falou-lhe do
Menino que vira nascer.
Contou-lhe que, nessa noite, brilhara
descontroladamente feliz.
Tanto que os sábios, os conhecedores do brilho certo,
resolveram segui-la.
Queriam encontrar
a razão daquela luz.
Contou-lhe depois
como permanecera sobre o presépio, ensinando o caminho
aos que procuravam
o Menino.
Aprendera com eles
o silêncio,
a simplicidade
e a confiança.
- Podemos ficar
contigo? – pediu outra das estrelas ao pinheiro que permanecia ainda
surpreendido com a história que acabara de ouvir.
- Para quê, se do
alto tudo alcançam? – contrariou.
- Queremos estar
mais perto dos homens, para ouvir o que dizem do Menino.
O pinheiro acolheu
então as estrelas nos ramos, tornando-se o mais brilhante na noite escura.
O Mateus ficou
algum tempo em silêncio.
- Em que pensas? –
perguntou o pai.
- O que dizem os homens sobre o Menino? - perguntou, fixando os olhos do pai.
O pai
acariciou-lhe o rosto, procurando discretamente sinais de febre. Não os
sentindo, saiu satisfeito da sala.
O rapaz ficou no sofá e, durante algum tempo,
observou as pequenas luzes na árvore de Natal. Quando voltou, o pai reparou no
sorriso do filho, percebendo-lhe o sentido: «As coisas que o meu pai inventa!»
- Queres ver um filme comigo? – sugeriu.
- Boa ideia, chama os teus irmãos. Eu procuro a
mãe.
O filme começou.
Em cada olhar um brilho intenso e feliz.
Terá vindo das estrelas?