O rapaz seguia cabisbaixo, arrastado, balão vazio.
Despedia-se contrariado do sono. No cabelo arrepiado trazia ainda vestígios do
sonho, mastros, pedaços de vela, que ficaram da viagem que fizera durante a
noite. Seguia, por isso, como marinheiro
em terra, desejoso por içar novamente as velas e partir.
A mãe avançava decidida, inclinada para compensar o
peso da mochila que levava numa das mãos. De quando em vez, vigiava a
retaguarda, não vá o rapaz ficar parado, outra vez amuado! Em cada passo, a
terra e o mar, ficar e partir, partir e ficar.
Indiferente o rapaz.
Decidida a mãe do rapaz.
Ele entrou displicente, aparentemente.
«Mãe, porque abres a minha mochila?
Por que razão a preenches com os teus sonhos?
Mãe, que caminho percorres com ela às costas?
Porque me obrigas a seguir-te?»
Ela saiu confiante, aparentemente.
«Filho, porque não abres a mochila?
Porque não libertas os teus sonhos algemados em
cada lombada alinhada?
Filho, os sonhos que carrego não são meus,
São o segredo que há muito me confiaste!»
A noite chegava pelo lado do costume. Ele
virava-lhe as costas, para seguir o Sol que preparava já o horizonte para nele
se deitar. Levava a mochila às costas. Caminhava sempre, segurando no rosto o
brilho quente e distante que o chamava. Caminhava para que o Sol não se
pusesse.
Seguiam confiantes, certamente.
«Mãe, quantos sonhos abandonaste por mim?
E porque já não caminhas à minha frente?»
«Filho, preciso dos teus olhos para ver ao longe.
Bastam-me as marcas da mochila que agora carregas.»
«Mãe, enruguei as lombadas que apontaste
Icei as velas que ainda sopras.»
«Filho, os sonhos partilhados são mais fortes.»
O rapaz avançava decidido, inclinado para compensar
o peso da mochila que levava. De quando em vez, vigiava a retaguarda, não vá
mãe ficar parada, inquieta, outra vez espantada! Em cada passo, a terra e o
mar, ficar e partir, partir e ficar.
Caminhavam sempre.
Caminhavam para que o Sol não se pusesse.