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Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2018

A Loirinha vai mudar de casa

A Loirinha era uma rafeira de porte médio. O pelo castanho-claro no dorso dava lugar ao branco nas patas e no ventre. Vivia em casa dos avós do Mateus desde os três meses e tinha acabado de completar seis anos. Ao final do dia, corria pelo jardim, qual corrida de obstáculos, por entre as árvores e os arbustos. Ninguém a conseguia apanhar, tais as fintas que conseguia inventar. Percorria depois os lugares preferidos que farejava com todo o cuidado, para confirmar se ainda lá se encontrava o seu osso favorito. Às vezes, encontrava o Soneca esticado ao Sol, em cima da mesa de pedra. Aproximava-se, silenciosamente, focinho junto à calçada, agarrado à pista como se fosse um detetive. Mas, quando chegava perto, não resistia às assustadoras garras do gato. Recuava, então, dois passos e voltava às corridas, regressando, por fim, à casota. O Mateus adorava adestrá-la. Caminhava lado a lado com a Loirinha, dando pequenos esticões à trela, acompanhados por ordens a que ela raramente o

A princesa que queria um abraço

Entre o móvel e a parede havia um espaço apertado. Parecia que o mundo todo cabia naquele lugar onde ela se refugiava. Daí lançava o seu protesto, como uma tartaruga recolhida na sua carapaça. - Não quero este vestido! - … - Não quero estas sandálias! - … - Não quero este gancho! - … - Este vestido não roda! - … - Não quero os botões apertados! A princesa permanecia sentada de braços cruzados sobre o peito, de rosto em banda, lábio inferir sobreposto e exageradamente voltado para o exterior. Olhava de soslaio. - … - Não quero ver um filme! - … - Não quero brincar! - … - Não sou linda! O olhar começava a ceder, mas o sorriso permanecia escondido. - Queres fazer uma roda? - Não quero fazer rodas! Nesse momento, já me olhava, mas ainda cabisbaixa, queixo encostado ao peito. - Queres um beijinho? - Não quero beijos! Não queria mas estendia os braços em forma de súplica. As portas da fortaleza abriam-se finalmente. - Um abraço no meu col

Mensagens Inesperadas - 32 - Fim!

32             Noite de consoada. Chegamos a casa do meu avô ao final da tarde. A minha mãe já lá estava. Viera mais cedo para ajudar nos preparativos. Já não eram novidade para mim aquelas panelas enormes onde as batatas, as couves e o bacalhau se cozinhavam, libertando um aroma inconfundível. As tradicionais sobremesas estavam já expostas e alinhadas no aparador da sala de jantar. A mesa esperava preparada para acolher os comensais.             Era uma noite especial. Os meus primos apareciam sempre repletos de cenas para contar e mostrar. A casa parecia sorrir tal era a alegria que a preenchia. Os espaços quase desabitados durante o ano eram agora invadidos por conversas ruidosas. Continuavam abandonados apenas aqueles que resistiam à tecnologia wi-fi.             - Então, Pedro, ouvi dizer que tramaste a vida a uns tipos lá da tua escola - intrometeu-se o Tomás. Eu não desviei o olhar da televisão, apesar de não prestar qualquer atenção ao programa que lá passa

Mensagens Inesperadas - 30 e 31 - Um jogo arriscado!

30             - Obrigado, Professor. Bom Natal! Quer que chame o Rui?             - Sim, pode ser. Se houver algum problema lá dentro, quero que me venhas chamar imediatamente.             - Pode ficar descansado, estamos a jogar basquete.             Saí do gabinete mas já nem me recordava da classificação atribuída. A minha preocupação era outra. Daí a pouco, a Teresa ia ser chamada e começava a contagem decrescente para a Catarina fazer o que tínhamos combinado. Aproximei-me do centro do campo onde todos se agrupavam para dar início a mais uma partida. Procurei os olhos da Catarina. Tudo pronto. Restava esperar e manter toda a calma necessária para que ninguém desconfiasse.             Naquele momento o tempo só corria para mim, acompanhava as batidas do meu coração. Parecia só meu. As linhas do campo afunilavam todas na mesma direção. Apenas eu e a Catarina. As escadas, o balneário feminino, o saco da Teresa, o telemóvel, as mensagens…             - Teresa, agor

Mensagens Inesperadas - 28 e 29 - Eis o plano!

28                          O António esperava-me no bar. Como sempre, não usava a cadeira para se sentar, ouvia música sentado numa das mesas. Olhava o campo de jogos que a janela lhe recortava.             -Olha-me aquele nabo, falhou o golo ­com a baliza aberta – gritou, abrindo repentinamente a janela. - A jogar assim, não tarda, estás no Benfica!             - Ei, Tó, deixa lá o tipo. O Benfica ultimamente só tem ido buscar jogadores ao Porto!             - Pedro! Desculpa, não estava a ver-te. Então, como correu a conversa na direção?             - Bem. Contamos a história toda. Os meus pais tinham razão, não nos vai acontecer nada, nem a mim, nem ao João. O Xavier e o Eduardo continuarão a ser observados, e, sem provas, parece que nada mais poderá ser feito.             - Se ninguém os apanhar com o produto, os tipos continuarão a fazer o que lhes apetecer aqui na escola.             - Mas comigo não vai ser assim! O João ficou quieto mas eu não. Aquela