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Mensagens

A mostrar mensagens de junho, 2018

Mensagens inesperadas - 9 e 10 - Pedro pede ajuda ao João

9 - Cá está, mensagens, Catarina, António… O que é que está aqui a fazer uma mensagem tua, Tó?! - Não é minha, parvo, é do pai da Catarina, do Dr. António! Olha aí, Pedro, essa é tua, abre-a! Abri como quem abre um exame nacional ou mesmo um presente inesperado. “Catarina, adorei passar contigo aquela noite! Foi fantástico. Temos de repetir…" - Quem foi que escreveu isto? Se eu o apanho, desfaço-o. - Vontade não te faltava de… - atreveu-se o Tó com ar sugestivo. - Não tenhas dúvidas, dava cabo dele! - Não, Pedro, vontade não te faltava de passar uma noite assim com a Catarina! - riu-se o António, colocando-se logo em posição de defesa. - Não sejas palerma! É claro que sim, quer dizer, não… Já nem sei o que digo. Deixa cá ver mais. E fui vendo todas as mensagens. Uma a uma, com a respiração suspensa. - Não há mais nenhuma que me comprometa. Deixa-me ver novamente: foi enviada do meu telemóvel às dez horas e dois minutos de segund

Mensagens inesperadas - 7 e 8

7 Faltavam alguns dias para o aniversário de Catarina. Nos intervalos e nas aulas não se falava de outra coisa. Todos ansiavam pelos convites que só ela sabia fazer. Mais do que lê-los, eu gostava de guardá-los. Na minha secretária, havia mesmo um lugar especial para todos os papéis que recebia de Catarina – o único local organizado do meu quarto! Ali escondia o testemunho de momentos importantíssimos, inesquecíveis. Cada bilhete era uma onda refrescante que vinha do passado. Mas o último bilhete, ali, por cima dos outros, incomodava-me, parecia esconder todas aquelas ondas de amor. Andava preocupado, ansioso. Precisava de um bom plano para descobrir quem me tinha posto fora de jogo e recuperar novamente a confiança da Catarina. - Então, Pedro, vais ao jantar no sábado? - Não sei, Bernardo. A Catarina não me disse nada. - Será que ela não vê que tu foste enganado? Que alguém te tramou? - Calma, pessoal. Pode ser que a vassoura se vire contra o feiticeiro. Eu solt

Mensagens inesperadas - 5 e 6

5 A campainha rompeu pelo silêncio da sala. Tive a sensação de mergulhar em água fresca num dia de calor intenso. Depois de intermináveis avisos, o professor autorizou a saída. Contudo, a Catarina fez todos os possíveis para evitar o meu olhar que a procurava como o íman que não larga o metal. Não percebi. Fugi para o corredor, guardando no meu bolso o tesouro de papel que ela me entregara. Sentia o meu corpo a rebentar de curiosidade. As pernas tremiam um pouco, pareciam ter vontade própria – a verdade é que tropecei várias vezes nas escadas até chegar ao exterior do bloco de aulas. Procurei de imediato um banco bem longe de todos os olhares. Queria saborear sozinho aquele momento. Não queria partilhar com mais ninguém as palavras de Catarina. «Pedro, eu gosto de ti. Quando não vens à escola, ela parece um estádio depois de um grande jogo. Mas não envies mais mensagens para o telemóvel da minha mãe. Já tenho de novo o meu. A minha mãe leu a

Mensagens inesperadas - 3 e 4

3 Daí a pouco, levantei os olhos, observando com cuidado os meus colegas, para colher discretas opiniões sobre a dificuldade do teste. Reparei que alguns manifestavam um entusiasmo contido e outros uma certa vaidade por terem previamente acertado na matéria testada. Ouvia-se a sinfonia das folhas manuseadas, viradas e dobradas, que, assim, se preparavam para receber as respostas que brotariam daquelas mentes curvadas como pontos de interrogação. À minha frente, o Xavier não parava de se mexer. Notei que não se concentrava na leitura do enunciado. Ora se recostava, abandonando os braços ao longo da cadeira, ora fixava o tecto, enquanto batia descontraidamente com a caneta nos lábios. Achei estranha tal atitude. Normal seria que se movimentasse na cadeira para tentar observar as respostas de algum colega desprevenido, qual explorador que na floresta se esconde atrás de um arbusto para observar ou capturar a sua presa. Ali perto, a Catarina começava já a responder às questõ

Mensagens inesperadas - 1 e 2

1             A curva era apertada e perigosa. Respirei fundo, reduzi habilmente para terceira, acelerei para o carro se agarrar na saída. Larguei num suspiro toda a pressão acumulada e deixei-me ir numa velocidade louca estrada fora. De repente, senti qualquer coisa de estranho no carro: como se umas mãos poderosas o abanassem sem parar! A estrada, ladeada por árvores frondosas, perdia-se no infinito. Os campos estendiam-se até aos montes longínquos, como uma manta feita de retalhos coloridos por onde os meus olhos passeavam espantados. - Meu Deus! Não consigo segurar o carro! Um vento fortíssimo abanava o carro que perdia aderência. - Socorro! Mãe! - Pedro. Sou eu, acorda. Abre os olhos. - Mãe?! – reagi com surpresa, tapando com a almofada quente e fofa a caixa dos pirolitos que naquele momento estavam completamente confusos e às cabeçadas uns aos outros. - Olha que eu... Já sabia que a minha mãe estava a preparar-se para uma sessão de cócegas. Era remédi