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Mensagens

A mostrar mensagens de abril, 2018

Dona Verdade e Dona Liberdade

A Dona Verdade conhecia a Dona Liberdade há muitos anos. Moravam no mesmo lugar, uma em frente à outra, e já não se lembravam do dia em que tinham vindo para ali viver. Todas as manhãs vinham à janela. Esperava uma pela outra e conversavam longamente. Eram tantas as histórias que tinham para contar! A Dona Verdade, que nunca foi dona da verdade, nunca se cansava de dizer que tinha sido verdade toda a vida mas que já não se lembrava da sua primeira verdade. Partidas da memória. Aqueles cabelos brancos não a deixavam mentir. A Dona Liberdade gostava de lembrar as histórias da sua juventude. Fechava os olhos em busca do passado que trazia ao presente com saudade. Aqueles tempos em que percorria as ruas à frente das multidões! - Amiga, nesse tempo andava um pouco descomposta! – intrometia-se a Dona Verdade. – Lembra-se daquela pintura? E ficavam a rir abraçadas pelo olhar que as unia. Certa manhã, a Dona Verdade veio à janela, como era habitual. - Bom dia, vizinha! Hoj

Dona Desculpa e Dona Licença

A Dona Desculpa e a Dona Licença caminhavam pela rua sorrindo a quem passava. A Dona Desculpa com os óculos na pontinha do nariz, a Dona Licença agarradinha à sua bengala. - Bom dia, menino! – saudavam, parando uns segundos para reparar no rosto do rapaz que seguia apressado. - Ó Dona Licença, o rapazito deve ser mais surdo do que nós! – protestou. - Eu cá também acho, deve ouvir mal, é um pouco surdo, assim como nós! – concordou a Dona Licença, enquanto soltava uma divertida gargalhada. E foram andando. O passeio era estreito e, por isso, seguiam lado a lado muito juntinhas. Às vezes, a Dona Desculpa dava o braço à Dona Licença. Como quando foi preciso atravessar a rua e a bengala não era ajuda suficiente. Na verdade, o senhor de verde que brilhava e assobiava ao mesmo tempo andava tão depressa que de repente ficava ofegante e vermelho. Perigosamente vermelho, porque os carros parados logo começavam a rosnar e a fazer tentativas de arranque assustadoras. - Ó Dona Descu

O Sapo Toquinhas ganha coragem

O Sol apareceu ainda envergonhado. Espreitava atrás de algumas nuvens. Mas foi o suficiente para que todas as plantas rebentassem de alegria. O brilho de cada folha parecia o mais lindo sorriso. Em cada árvore despida, acordavam agora as vizinhas folhas que abriam pequenas janelas nos ramos por onde se punham a espreitar e a contar histórias do longo inverno passado. A Teimosa já vagueava pelo jardim. Aqui e ali parava para avaliar as flores que abriram tocadas pelos primeiros raios de Sol. Sentia-lhes o perfume, observava-as em busca de néctar. Uma das mais corajosas era a peónia. Majestosa! Irresistível! Cada pétala um desenho único e inspirado. No alto do caule, um castelo amarelo, certo da sua beleza. O Sol abrira as portas e foi aí que a Teimosa entrou. O Soneca parou no banco de pedra. Esticava as patas e o corpo para que o Sol o tocasse longamente e o acompanhasse na sua preguiça. Olhava lentamente a Teimosa que entrava e saía da peónia. Nem reparou no Sapo Toquinhas

O Sapo Toquinhas e as formigas em perigo

Um, dois, um, dois. As formigas aqui vão Um, dois, um, dois. Para enfrentar o perigo, Um, dois, um, dois. Encontrar a solução, Um, dois, um, dois. E voltar para o abrigo. Um, dois, um, dois.                 A Musculosa marchava decidida à frente das companheiras. Desta vez, a missão era séria – as mensageiras tinham emitido um pedido de ajuda urgente.                    - Pai, quando levas estas garrafas para o vidrão? – perguntou o Mateus.                 - Logo que possível. Temos de levar também o papel e o plástico. Por enquanto, ficam aí nos separadores.                 O Mateus e o pai estavam no alpendre e preparavam-se para guardar as ferramentas que tinham usado para limpar o jardim. Uma das garrafas tinha caído do muro que existia no limite do alpendre. Estava inteira e permanecia transparente. O Mateus não a viu por isso ela ali ficou entre as camélias.                 Era para esse local que a Musculosa e as amigas avançavam. Pelo caminho,

O Sapo Toquinhas já sabe porque tarda a primavera

A Clara regressava pensativa. Entrou no carro sem dizer uma palavra. A mãe achou estranho. - Clara, está tudo bem? Não respondeu, olhava pela janela. O pai arrancou. As nuvens acumulavam-se no céu. Cada vez mais cinzentas, cada vez mais escuras. O vento já não se mexia, aguardava, pasmado com a construção de nuvens que acabara de originar. O trajeto era curto. Depressa chegaram a casa. As árvores do jardim continuavam encolhidas, voltadas para dentro. - Quando é que volta o Sol? – perguntou a Clara, enquanto saía do carro. As camélias teimavam em colorir o inverno. Surgiam vaidosas nas mais diversas formas e cores. Também o rododendro mantinha as folhas verdes. Era aí que se escondia o Sapo Toquinhas que ficou a pensar na pergunta da Clara. Além disso, também o preocupava a ausência do Sol. Avançou até ao regador vermelho e coaxou. Nada, o Velho Vagaroso não respondeu nem apareceu vagarosamente. Onde estaria? Deu mais uns saltinhos e passou pela Pipoca que permaneci