A Dona Verdade conhecia a Dona Liberdade há muitos anos. Moravam no mesmo lugar, uma em frente à outra, e já não se lembravam do dia em que tinham vindo para ali viver. Todas as manhãs vinham à janela. Esperava uma pela outra e conversavam longamente. Eram tantas as histórias que tinham para contar! A Dona Verdade, que nunca foi dona da verdade, nunca se cansava de dizer que tinha sido verdade toda a vida mas que já não se lembrava da sua primeira verdade. Partidas da memória. Aqueles cabelos brancos não a deixavam mentir. A Dona Liberdade gostava de lembrar as histórias da sua juventude. Fechava os olhos em busca do passado que trazia ao presente com saudade. Aqueles tempos em que percorria as ruas à frente das multidões! - Amiga, nesse tempo andava um pouco descomposta! – intrometia-se a Dona Verdade. – Lembra-se daquela pintura? E ficavam a rir abraçadas pelo olhar que as unia. Certa manhã, a Dona Verdade veio à janela, como era habitual. - Bom dia, vizinha! Hoj