O Alviela avançava sossegado para em breve descansar nos braços do Tejo, embalado pelo canto das Tágides. O paço dos Coutinhos espreitava-o a pouca distância, enquanto o estio chegava de mansinho, naquela serena tarde de junho. Deixaram então o alpendre em silêncio perturbado e entraram no quarto, onde o tinham acolhido já muito debilitado. João de Portugal estava com ele. - Luís, Luís Vaz! – sussurrou. O Poeta abriu os olhos e esboçou pausadamente um sorriso completo. - Estão aqui o Manuel de Sousa e o nosso adorado rei! Passaram quase dois anos, meu bom amigo! Luís reconheceu o tenro gesto do soberano marcado pelas agruras do deserto e da longa peregrinação. Procurou depois os olhos de Manuel de Sousa e, apontando para uma mesa ao fundo cama, proclamou na medida heroica: - Manuel, eis aí a tua espada! Manuel, eis aí a tua pena! De seguida, chamou o anfitrião, ainda moço, filho do seu amigo e protetor. - Gonçalo! Hesitante, Gonçalo Coutinho aproximou-se e Lu...
Foi quando ela levantou o braço, procurando uma oportunidade para intervir. Perante a anuência do professor, avançou: - Não lhe parece que nesta passagem poderá verificar-se também uma antítese? O silêncio que se fez abriu uma clareira que o colocou na berlinda. Começou por assegurar a presença da anáfora no verso de Pessoa, procurando depois trilhar o caminho da contradição que ela propunha. Como era belo aquele momento ! As palavras desinstalava m . Inesperadas, abriam novas possibilidades. - Terás de explicar, desdobrar melhor essa possibilidade. E ela reafirmou a oposição, mostrando as ideias nas palavras ditas e nos gestos suaves que as revestiam. - Parece-me forçado, dado que implica outros verso s que não consideramos neste item. - Mas as palavras deste verso estão intimamente ligadas às dos anteriores e considero evidente a oposição, a presença de ideias contrárias. Não era aquela a resposta que ele trazia preparada nos crité...