O rapaz aguardava ao fundo do corredor, dava passos
sem destino para enganar a espera que sempre o incomodava.
Aproximei-me e reparei que fixava o chão, perdido na
sua geometria monótona, gasta e quadrada.
- Já lhe enviei o texto! – disparou.
- Deixa-me confirmar.
Sim, era verdade. Observei-lhe o rosto e vi que um
sorriso triunfava naquele momento. Afastou-se depois ligeiramente, ensaiando um
bailado indeciso, passos que o levavam e traziam, impaciente, esperando a minha
reação.
- Não vai ler agora, pois não? – sugeriu incerto.
O corpo crescera muito e precisava ainda de acertar umas
contas com as ideias. Esperou ligeiramente curvado para me ouvir melhor.
Naquele momento, o corredor acolhia já mais passos que nos cercavam curiosos,
um cerco insistente.
- Gosto do título. Certamente abrirá as portas para
uma bela história – adiantei.
De imediato, o rapaz foi arrastado para o intervalo,
para o exterior, desviando-se das perguntas com gestos e sorrisos desligados.
Também ele continuava agarrado ao texto que deixara nas minhas mãos.
O que é o futuro?
Era o título. Parecia uma pergunta desnecessária,
mas agarrou-me, desafiadora. Qualquer adulto certificado evita estas perguntas,
certo de que já encontrou as respostas ou de que não as quer encontrar ou de que
não há respostas.
O que é o futuro?
De soslaio, reparei que, ao fundo das escadas, o
rapaz procurou ainda os meus olhos. Tentava confirmar o estado em que a
pergunta me deixara. Queria uma resposta e sabia que tinha dado o primeiro
passo.
Surgiu-me a esperança.
Seria ela capaz de uma resposta completa, acabada?
Tinha dúvidas.
A esperança tem, por vezes, efeitos secundários,
quando chega aos ouvidos das vidas incertas,
que a recebem com um sorriso doloroso,
desconfiado.
Mas não encontrava melhor.
Só a esperança parecia grávida de futuro.
E… que futuro pode ser presente?
Todos nascem para crescer.
- Mas esperar é estar agarrado ao presente! Eu, quando
espero, aguardo – dirá mais tarde o rapaz.
Direi que não,
que a esperança é um futuro que não nos procura,
que é o caminho que abrimos e percorremos.
A espera de quem caminha.
O intervalo findara. Voltavam arrebanhados.
- Já leu? – perguntaram.
Aumentava a minha responsabilidade. O futuro que os
percorria também era meu. A esperança de quem caminha não se quer solitária.
E as derrotas cabem na esperança?
Na esperança só as conquistas.
E derrotas.
Não, na esperança só os sonhos. As derrotas são presente
e são passado. Só as conquistas são presente, passado e futuro.
O que é o futuro?
Sonhos.
Conquistas.
Vi-os entrar na sala de aula.
Fiquei no corredor e preparei-me para ler o texto.