Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2018

Até onde gostas de mim?

                 - Adoro-te!                 E fechava os olhos para sentir melhor o abraço embalado. O beijo vinha depois. Com ele marcava o amor maternal que as palavras timidamente diziam. O abraço e o beijo vão sempre mais longe.                 - Até onde gostas de mim? – quis saber o Mateus, trazendo ao presente aquela música que tantas vezes ouvira.                 - Diz-me tu: até onde vai o meu amor? – contornou a mãe.                 - Eu gosto de ti até ao meu coração!                 - Essa medida já conheço! – protestou enquanto lhe fazia cócegas.                 - Até à lua!                 O olhar carinhosamente ameaçador da mãe fê-lo reconsiderar:                 - Até ao Sol!                 - Melhorou ligeiramente!                 - E tu, mãe? – desafiou.                 - Os meus olhos não alcançam a medida do que sinto por ti.                 - Poderás usar uns óculos ou um telescópio! – gracejou.                 Nesse momento, a Ter

Um piano que nos toca!

Ela levantou-se e fixou o longe pela janela por onde o Sol tinha invadido o quarto. O olhar encontrou-se por momentos com a luz – o brilho e a profundidade líquida uniram-se num abraço ímpar. Lá fora, a manhã ensaiava o vestido verde que tinha escolhido para aquele dia e o vento brincava com as folhas das videiras alinhadas. Ela sorriu e fechou os olhos para inspirar todas as cores. Paulatinamente uma melodia ganhou espaço e com ela viu-se menina sentada no tapete da sala com janelas enormes por onde se via o mar. Viu-se no tempo em que descobriu que o mar cercara de espanto a terra. O mar cercava a sua terra! Nunca deixou de a abraçar! Ao final da tarde, beijava-a com ondas suaves. Depois preparava-se para ouvir. Ao seu lado, outros meninos sentados, abraçavam os joelhos e a eles encostavam o rosto, espreitando apenas os olhitos para ouvir melhor. Silêncio! O Professor ia começar! O Professor sorria-lhes, enquanto preparava o banco. Inspirava depois como quem

Pai, com quem vou ficar?

O menino tinha a pergunta suspensa nos olhos que naquele momento mantinha escondidos com as mãos. As palavras alinhadas no pensamento formavam uma onda que daria lugar a um silêncio assustador. Arriscaria? Tocou no ombro do pai que se encontrava no banco da frente. Parecia uma ilha. Olhava fixamente sem ver absolutamente nada. - Com quem fico este fim de semana? O silêncio confirmou-se. De um lado, a insegurança, a incerteza que, como a sombra, pode impedir o crescimento. Do outro, a divisão, a bifurcação: onde antes era um, agora eram dois os caminhos. A dividi-los um fosso de segurança. O menino percorreria ora um, ora outro. O silêncio continuava. Será que devia ter feito aquela pergunta? Reparou pela janela do carro nas aves alinhadas num fio elétrico ali perto. Eram centenas, imóveis, à espera. Em breve partiriam rumo a zonas mais quentes, fugindo do longo inverno prestes a começar. Lá longe encontrariam as cores da segurança. Depois voltariam de novo ali para pa

Pai, senta-te aqui!

                O Mateus chegou calado. Trazia a mochila às costas, a lancheira a tiracolo, o casaco perdido no braço e o saco da natação suspenso no ombro. Os sonhos ocupavam o espaço disponível, onde, por vezes, ficavam muito apertadinhos.                 Um dos livros espreitava por uma pequena abertura da mochila, estava preocupado com a lentidão desanimada do rapaz e com a pergunta que ele trazia suspensa no olhar - queria saber quanto era cem por cento. - Depende – respondeu o pai, enquanto abria a porta de casa. - Se conseguires responder corretamente a todas as perguntas de um teste, poderás alcançar cem por cento. Imagina um jogo onde, para chegares à meta, tens de ultrapassar cem obstáculos. Quando conseguires chegar ao fim, tens cem por cento; porque ultrapassaste todos os obstáculos, conquistaste todos os pontos. - Sim, pai, mas posso não ser o primeiro... Com esta não contava! O pai percebeu que o problema era bem mais difícil de resolver. Encontrar a justa me