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Mensagens

A mostrar mensagens de agosto, 2018

Mensagens Inesperadas - 26 e 27 - No labirinto, sem fio e sem asas

26 - Senta-te também aí, João. Eu e a mãe queremos falar convosco. O meu pai deu assim início à conversa que eu esperava desde o início do jantar. Por isso comi pouco. A cada garfada, perdia-me nos pensamentos que passavam como nuvens fustigadas por vento forte. - O diretor da vossa escola convocou para amanhã uma reunião a propósito de substâncias ilícitas na escola e parece que vocês estão envolvidos - disparou sem eufemismos. Nesse momento, o meu avô, que entrara no habitual estado de sonolência após as refeições, levantou a cabeça e lançou-me um olhar vivo que albergava uma boa dose de dúvida e desencanto. - O que têm a dizer sobre isto? – juntou-se a minha mãe. - Bom, quem deu origem ao problema fui eu - comecei. - A propósito daquela mensagem que tu já sabes, pedi ao professor João para visionar umas imagens gravadas no sistema de vigilância da escola. Quando eu esperava ter encontrado o engraçadinho que me tinha feito passar por lorpa, o professor Luís ch

Mensagens Inesperadas - 24 e 25 - O João não encaixava naquela moldura

24             O encontro com a Catarina deixara-me mais calmo. As ideias mais cruéis tinham sossegado e a minha imaginação voava agora por entre razões mais plausíveis. Arrancar o João do retrato que levei anos a construir era um contrassenso, mas, perante as provas que me atacaram como uma estalada inesperada, não resistia a pensar nas piores coisas. O meu irmão envolvido com aqueles tipos! Não, não podia ser! Era mau demais. Um golpe muito duro para os meus pais. Depressa recordei alguns colegas que em nada se desviavam do comportamento considerado equilibrado, adequado, e que se revelaram, repentinamente, o oposto. Ostentavam uma vida que lhes servia de máscara para ocultar uma outra no mínimo questionável, onde abundavam as noites sem dormir e a alucinação causada por substâncias a todos os níveis perigosas. Perturbavam-me, no dia seguinte, aqueles rostos cansados, descoloridos, ávidos por água. Sentados no átrio, pareciam derrotados, esquecidos, desligados da vida que fer

Mensagens Inesperadas - 22 e 23 - Na solução, por vezes, está o problema!

22             As aulas de terça-feira correram ao lado dos meus pensamentos. Respirava fundo para dar espaço à imaginação que invadia os dias seguintes na esperança de antecipar respostas que as gravações de vídeo guardavam seguramente. Não queria acreditar que algum dos nossos amigos pudesse ter-nos feito uma daquelas partidas. Por momentos, desistia da ideia de visionar as imagens para não ter de enfrentar essa possibilidade. Contudo, a curiosidade e a vontade de vingança eram irresistíveis. Abriam-se num sorriso maroto que espreitava no canto da boca.             - Em que pensas, Pedro? Estás calado desde que entraste no carro. Passou-se alguma coisa? - a minha mãe sondava o meu olhar misterioso. - Podem passar comigo em casa do avô, ou preferem ir já para casa? O meu irmão seguia ao lado da minha mãe. Olhava a estrada enquanto ouvia música cujo ritmo eu podia acompanhar pelo balanço do seu corpo.             - Podemos ir todos - respondi depois de consultar o João co

Mensagens Inesperadas - 20 e 21 - Teria sido a Beatriz ou o Bernardo?

20 O Natal estava próximo e aquela era a última semana de aulas antes das férias. Naquele dia, acordei mais cedo do que o habitual. O João ainda dormia quando me sentei na cama e peguei no telemóvel para ver as horas e as mensagens. Estava ansioso por encontrar a Catarina. Enfiei-me dentro das calças que me esperavam pacientes e descuidadas ao fundo da cama. No armário procurei umas meias e uma sweatshirt para aquele dia que me parecia um dos mais felizes dos últimos tempos. Em frente ao espelho, murmurei a palavra que levava escrita na camisola, trap , e achei-a muito oportuna: tinha caído numa muito bem montada e estava disposto a usar a mesma moeda. Levantei a mochila que até ali permanecia atrás da porta do quarto e desci para a sala onde esperei pelo pequeno-almoço. O sofá abraçava-me com os seus almofadões macios, enquanto eu fixava um ponto no teto e abanava as pernas, alimentando o fogo da imaginação que naquele momento já habitava a escola. Repentinamente, lembre