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Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2018

Mensagens inesperadas - 18 e 19 - Há problemas que não resistem a uma boa conversa

18 A segunda-feira chegara depressa demais. Assim pensava a Catarina enquanto se dirigia para a escola, indiferente ao programa que a mãe sintonizava. Apoiava a cabeça na mão direita enquanto explorava com a outra o funcionamento do telemóvel que o tio José lhe oferecera no sábado anterior. - O tio José teve um gesto admirável. É um bom homem sempre disponível para ajudar. Terei de o compensar no Natal. O que é que lhe podemos oferecer, Catarina? - Concordo contigo. Primeiro, foi o computador, agora, o telemóvel. É evidente que não os utilizava, mas podia querer algo em troca, podia vendê-los! - Isso é verdade, está sempre na linha da frente em matéria de novas tecnologias… Será que ele gosta daquela compota de pera com amêndoas que eu fiz? O teu pai devora-a. Se o tio José sair ao irmão, vai adorar. Acho que lhe vou preparar uns frasquinhos! - Acho que ele vai adorar! Naquele momento, o telemóvel da mãe da Catarina tremeu para anunciar a chegada de uma mensagem

Mensagens inesperadas - 16 e 17 - O que é uma nassa?

16 Sexta à noite. A Beatriz tinha convidado a Catarina e a Teresa para dormirem em casa dela. O trabalho de Francês seria o pretexto para mais uma longa conversa. Tinham de confecionar o "Tronco de Natal", designação que a Catarina considerava horrível, já que preferia a versão francesa Bûche de Noël . Aquela noite seria perfeita para pensarem nos ingredientes e na forma a dar ao bolo. Viviam o conforto macio de um fim de tarde que antecede o fim de semana, a sensação brilhante de fazer o que lhes apetecia e a expectativa de estarem juntas longas horas, sem horários limitadores. Sondavam os smartphones sem objetivo aparente. A viagem de carro decorria num silêncio sorridente que as unia. - O que é querem jantar? - quis saber a Beatriz. - Não sei. Não me apetece nada em especial - respondeu a Catarina, sem tirar os olhos das árvores que permaneciam firmes sob aquela chuva fininha que bailava entre os ramos. - E se fosse uma piza, assim, de tamanho familiar! – a

Mensagens inesperadas - 13 a 15 - Conversas sensatas

13 O António já me aguardava numa mesa do bar. Recebeu-me com um enorme sorriso, cedendo-me a cadeira onde repousava os pés que ostentavam uns ténis desgovernados, mas que pareciam a peça fundamental do seu guarda-roupa. Por ali se via o seu estilo descomprometido, despreocupado, "tá-se bem" , que tanto me agradava. - Então? Não dormiste?! - Pouco. - Deixa-me adivinhar, a Catarina não te sai da cabeça! - Não consigo deixar de pensar naquela cena. - Eu já reparei. Ontem não acertaste um passe no jogo. Acho que o mister não te vai convocar para o próximo. Tens de reagir, Pedro. Uma miúda não pode ser o centro do teu mundo! O António sabia que o futebol poderia ser uma boa estratégia para me resgatar daquela desistência geral. Era ali que eu sentia o brilho da vitória e da conquista. Era ali que eu era aplaudido e valorizado. A escola, para além dos amigos, tornara-se uma responsabilidade assustadora que me deixava desiludido a cada resultado que me chegava

Mensagens inesperadas - 11 e 12 - Os problemas partilhados tornam-se mais leves

11             O sono teimava. Resistia. A escuridão e o silêncio que me cercavam não me acalmavam. Procurei o telemóvel para ver as horas e para ter algo que me ocupasse o pensamento. Lembrei-me de que o tinha deixado a carregar na cozinha junto à torradeira. Instintivamente, os meus pés procuraram os chinelos e facilmente se entenderam. Ao descer as escadas, percebi que os meus pais estavam ainda na sala e conversavam a meia voz. Parei a meio, discretamente, o meu nome fora motivo suficiente.             - Madalena, isso não faz sentido nenhum. O Pedro não é rapaz para essas confusões! E ele tem namorada?! Não me tinhas dito!             - Tem uma amiga especial. É a filha da Eduarda e do António.             - Parece-me bem, isso até é bom porque poderá ficar mais ajuizado, mais concentrado. As raparigas parecem-me sempre mais trabalhadoras, mais maduras.             - Achas?! Eu cada vez me surpreendo mais com a mentalidade destes miúdos. Parece que ruiu tu