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A mostrar mensagens de maio, 2018

Números amigos

                - Posso entrar, Tri?                 - Hepta, meu amigo, claro, entra!             O Hepta estava muito cansado. Já não tinha idade para aquela escadaria. Podia descer de elevador, mas detestava ficar fechado naquele cubículo. Era como andar a mando das teclas de uma máquina que o colocava alinhado ao lado dos vizinhos números para fazer deles o que queria, tirava, punha, dividia, nunca sabia o que lhe iria acontecer, dentro daquelas invenções malucas. Portanto, preferia as escadas, uma por uma, agarrado ao corrimão.                 - Senta-te um pouco, descansa – aconselhou o Tri.                 - A cada dia que passa, parece que vivo mais afastado de ti.                 - Não digas isso, as escadas que nos unem continuam as mesmas.                 - Olha, amigo, já nem sei quantas são!                   - Ainda me lembro do tempo em que as avançavas de um salto só…                   - Que saudades, Tri, lembro-me muito bem!                 Ne

A Idade Menina tornou-se Maior

A Idade Menina chegou a casa. Saiu do carro e caminhou em direção ao portão. - Até logo. Se precisares, liga. - Até logo – respondeu. O pai voltou para a cidade. Ela, introvertida, atravessou o jardim. Não reparou que o botão da peónia tinha cedido ao abraço do Sol e abrira em flor como quem sorri a quem passa. Não reparou na borboleta que esvoaçava de flor em flor orgulhosa das cores que o Sol lhe oferecera, no dia em que voara pela primeira vez. Tanto tempo desejou voar que agora não sabia se havia de voar ou de pousar. Andava por ali, indecisa, de flor em flor. Voar ou pousar? Pousar e voar. Não reparou no pássaro que saltava de ramo em ramo, ensaiando pequenos voos, sempre tentado pelos mais afastados. Tanto tempo desejou voar mas agora não sabia se havia de voar ou de pousar. Voar ou pousar? Pousar e voar. Entrou em casa. Continuava ensimesmada. Voltou atrás para confirmar se tinha fechado a porta. Sentou-se a Idade Menina a pensar na Idade Maior. Ficaram de

O Senhor Sorriso apresenta uma queixa

O Senhor sorriso saiu disposto a apresentar queixa. Estava cansado, não aguentava mais aquela situação. Contudo, entrou no carro sorridente – afinal continuava a ter razões para sorrir. Aquele era apenas um problema que resolveria facilmente com a ajuda da polícia. Estacionou no centro da cidade e percorreu a pé o percurso até à esquadra mais próxima. Caminhou determinado, enquanto acenava amavelmente aos outros transeuntes. - Bom dia! - Bom dia. Faça o favor de dizer. Em que posso ajudá-lo? - Senhor Agente, estou chocado com o que me está a acontecer ultimamente. Alguém anda a brincar com a minha cara nas redes sociais. - Queira ir direto ao assunto, por favor. - Sim, Claro. Resumidamente, colocaram a minha fotografia a circular nas redes sociais, sem me consultarem, contra a minha vontade. Mais grave ainda, não me revejo naquele sorriso amarelo, mais ou menos torrado, enfim, sorriso amarelo. - Mas tem a certeza de que é o senhor? - Sem dúvida! Veja. E aprese

Senhor Bom Dia e Senhor Obrigado

          O Senhor Bom Dia entrou na sala e percebeu que teria de esperar muito tempo para resolver o seu problema. Retirou o papelinho e atravessou o espaço em busca de uma cadeira desocupada. Olhou cada pessoa, uma por uma, à esquerda e à direita. A todas foi desejando «Bom Dia!». Silêncio. Todas se mantiveram fechadas, perdidas nos pensamentos ou perdidas na conversa que mantinham para ocupar o tempo. Sentou-se o Senhor Bom Dia satisfeito por ter encontrado um lugar junto à janela. Ver as árvores era suficiente para suavizar a espera. Não trazia nada nas mãos. Se tivesse um telefone muito inteligente poderia tirar fotografias às árvores. Mas afastou rapidamente do pensamento aquela estupidez. Guardar as árvores dentro do telemóvel não serviria para nada. As árvores mudavam a cada momento e isso era mais interessante. Mexeu-se na cadeira, para incentivar outra ideia mais feliz. À sua frente, duas crianças destacavam-se do grupo dos esperadores. As gargalhadas invadiam o espa