Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2021

Joaninha, voa, voa

            - Pai, hoje, vais escrever uma história sobre o Pandinha, a Joaninha, o Unicórnio e o Passarinho! - Vou?! O convite da menina trazia escondida a certeza da resposta e, por isso, não esperou o tempo suficiente para que o pai encontrasse um obstáculo qualquer. Um daqueles aborrecidos que sempre impedem o sonho e que nos amarram ao presente descolorido. Ficaram aquelas criaturas, carinhosamente embrulhadas no nome dado, à espera de uma oportunidade. A menina apresentara-as daquela maneira, recortadas, pedaços da história onde as tinha encontrado, abandonadas junto à vontade do pai.   O Pandinha, a Joaninha, o Unicórnio, o Passarinho!   Quem as escuta? Quem as recolhe, assim, cruéis, desfeitas, nas suas conchas puras?   Que acaso as uniu, assim, vestidas de pequenez aveludada? O Pandinha esperava pacientemente pela folha escondida no rebento que despontava no poderoso tronco. Um pouco mais acima, uma Joaninha...

História fora da janela

A Teresa aproximou-se, os olhos eram do tamanho de uma rede gigante. Era impossível fugir-lhe. Trazia na mão uma pequena janela que o Sol nunca tocara. Por ali, nunca a brisa suave e perfumada fizera caminho, nunca o canto dos pássaros atravessara aquele vidro sensível. O Pai ainda recuou três passos na esperança de não ser apanhado, mas logo sentiu dois toques no braço seguidos do insistente vocativo:                  - Pai, pai! Os óculos na pontinha do nariz libertavam carinhosamente os olhos irresistíveis. – Pai, escreve aqui um papagaio, dois ratos, uma tartaruga. Perante a incompreensão do adulto, continuou: - Aquela história que eu vi no outro dia: um papagaio, dois ratos, uma tartaruga… O pai registou na barra de pesquisa as palavras mágicas. Cada uma era agora uma cana de pesca naquele retângulo que parecia um barco na superfície do mar profundo. Rapidamente, emergiram centenas de vídeos alinhados. ...

Feliz ano novo!

       - Pai, quando vamos a casa da avó?                 A pergunta trazia um vazio agarrado, vinha vestida de saudade. Era um protesto sublinhado pelos olhos que o fixavam intensamente.                 - Já falta pouco!                 - Quando chegarmos, posso dar-lhe um abracinho?                 O pai refugiou-se nos olhos da mãe que ao lado também ouviu a pergunta da Teresa. Uma lágrima atreveu-se antes das palavras.                 - Que tens, pai?                 Nada.     Não tinha nada. ...