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Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2020

O sorriso escondido espreita no olhar

Entrei e dirigi-me para a secretária disposta junto à janela. As cortinas dançavam inspiradas pelo vento, que parecia querer fugir daquele espaço. Junto ao monitor, havia um líquido transparente que disparei sobre os objetos por ali alinhados. Era a primeira vez, nunca os tinha recebido assim: sorriso escondido, mãos presas, algemadas, negando os abraços que apagam a distância e a saudade. Restava o olhar espantado, resistente, líquido, enraizado… Entraram e procuraram enfileirados a higiénica torre que os protegeria dos ataques inimigos. Tomaram depois posição no lugar respetivo. Reparei que também eles mantinham o sorriso aprisionado, amordaçado. Mas não os olhos. Esses passeavam pela sala, encontrando outros a quem contavam pequenas histórias silenciosas, deliciosas, às vezes, ousadas, às vezes, envergonhadas. As gargalhadas formavam uma albufeira atrás do muro que lhes barrava o caminho. Apenas o som abafado conseguia evadir-se. Gargalhadas incompletas. Enquanto os observav

Uma tenda no jardim!

  A noite tinha chegado e havia espalhado pelo lugar a sua mantinha leve e brilhante. A lua parecia um candeeiro atento que resgatava do escuro as mais belas flores do jardim. O silêncio era agora o tempo dos animais: os cães uivavam notícias ao desafio, as cigarras afinavam o interminável cânone e os gatos ronronavam histórias de caça. - A minha lanterna, mãe? A Clara avistou-a rapidamente, antes mesmo da resposta pedida, e divertiu-se a fazer círculos brilhantes no tecto da sala. - Clara, essa lanterna é minha! – queixou-se imediatamente o Mateus. - Não é nada! A tua é a redonda! – contrariou. Daí a pouco, a Teresa seguiu os irmãos, que já tinham saído para o alpendre. Um pouco atrás, testando a lanterna do telemóvel, avançou também a Inês. - Pai, ainda demoras? – protestou o Mateus que queria chegar depressa ao jardim da casa vizinha. Saíram. O orvalho afagava as ervinhas do caminho. Cada gotinha deslizava pelas pétalas e pelas folhas, saciando a sede que o Sol tinha