O Gabriel estava sentado sofá. Sentado não, pois parecia um acrobata: uma perna na China, outra em Portugal. Tinha numa das mãos o comando que disparava ordens em busca do canal desejado. E a pobre televisão lá soluçava um de cada vez espantada com a indecisão do rapaz. Mesmo ao lado, a Mariana deslizava pelas publicações de uma rede qualquer sem saber ao certo o que procurava. Fixava de quando em vez uma foto que esticava e encolhia para logo voltar à patinagem com o polegar no rinque colorido e brilhante. A mãe estava ali perto cercada de equações que às vezes não cabem nos números. Nesses casos, a solução foge por entre os sinais quase sempre limitadores para se fixar na beleza do Sol que beija o mar ao fim da tarde. E tudo acontecia ali ao lado. Cansada de alinhar números, levantou-se e caminhou pela sala, bebendo lentamente o café ainda morno. A dada altura, o Gabriel seguiu-a com o olhar. Aqueles olhos enormes, sedentos de respostas, questionaram em silêncio a inquietud