Chegava, balançando em cada degrau, vagarosamente, como quem conta secretamente os degraus que teimavam em manter-se ali, obrigando-o à necessária subida. Podiam ser menos, mas não levariam tão alto. Levava a mochila às costas, presa por uma só alça. Parecia uma bola vazia, desocupada. Apenas um caderno preto e um estojo maltratado com restos de materiais com que se entretinha durante as aulas: uma borracha à beira da extinção, um lápis diminuto, uma esferográfica despida, reduzida à carga atacada por dentadas insistentes. Aproximou-se do banco de espera e ocupou o lugar habitual. Tirou do bolso o telemóvel e ali ficou longos minutos, enquanto assistia ao desfile de imagens que deslizavam pelo ecrã. Pedaços de humanidade desligados, distantes, instantes. Uma espécie de narrativa sem tempo, sem espaço. Um carrossel de êxtases sem circunstância, como se tudo ali se reduzisse ao ponto culminante. Nada antes, nada depois. Não havia causas, não havia consequências. E o rapaz lá contin