As palavras vaguearam pela sala, borboletas sensíveis em busca das flores dispostas e entusiasmadas com o Sol. Tinha chegado o momento. Finalmente, Leonor passava descalça para a fonte. Sustentava na cabeça o pote, na mão direita levava o testo. Passava formosa, discretamente envergonhada, secretamente ousada. Passava, ia para a fonte. Observei-os demoradamente junto àquele caminho verdejante, onde as palavras sussurravam nas suas conchas puras e era preciso encostá-las ao ouvido para escutar o seu eco distante. Traziam ainda as conversas na fonte, as promessas de amor, as saudades do amigo ausente. E Leonor passava, ia buscar água. Mas ninguém parecia reparar nos pés descalços, endurecidos, seguros em cada passada. Ninguém fitava o pote vazio, ninguém apontava o duro esforço - chegar à fonte, encher o vaso, levar água para casa! E lá ia Leonor. Trazia a saia de cote, a saia de todos os dias, sempre branca, sempre pura. A outra, se a tivesse, aguardaria pelos dias de fest