Ouvi dizer há dias, uma vez mais, que, no futuro, no teu futuro, irás exercer uma profissão que ainda não existe. Reparei no semblante carregado de quem ao meu lado se sentava, nos acenos afirmativos e nos lábios cerrados. Por momentos, senti que tudo aquilo que te ensinámos, que tudo aquilo que por ti escolhemos, poderia ser um logro; admiti ainda que percorrias uma escola obsoleta, cercada de altos muros, incapaz de ver para além deles. Por momentos, percebi a monstruosidade cometida em cada pergunta que te obrigava a pensar no teu futuro: o que queres ser quando…? Por momentos… apenas por momentos. Afinal, quem me garantiu aos dez anos a profissão que hoje exerço? Dirão que não é nova. Não, não é. Mas o que é hoje afasta-se vertiginosamente do que foi. Além disso, descobri que um dos meus amigos de infância é hoje operador de drones. É que, quando éramos pequenos, a única aeronave não tripulada que conhecíamos era o avião de papel ou a avioneta! Mia Couto diz ser a n